Breu

Caminho embriagado pelas ruas escuras

E não me encontro

Subo distraído pelas escadarias tortuosas

E não me enxergo

O peito ofega, a boca esfumaça o ar gelado

A noite da cidade me envolve

O escuro das esquinas me consola

Na torre, o relógio marca horas indecifráveis

Na rua, as sombras sussurram e se esvaem sem motivo

Sinto ódio, sinto o lobo que tenta sair, em seguida não sinto nada

Quanto tempo eu andei sem rumo?

Quanta dor eu infringi apenas por prazer?

Perguntas que permanecem sem resposta na calada da noite

Permaneço sentado, olhos cerrados, mãos doloridas

Camuflado no mais absoluto negrume,

onde nem a lágrima é capaz de brilhar

Onde o sangue escorre sem ser notado

E a dor se torna um gemido contido

Aqui, neste canto inóspito da cidade

Eu desperto o pior de mim

Enxergo apenas silhuetas difusas no vazio

No bloco assimétrico da noite

O silêncio enregela meu corpo exausto

Desapareço entorpecido pelo lento apagão das ideias

Deixei-me levar pelo impulso mais cruel

Sinto apenas o vazio escurecido,

o breu do peito que não se pode preencher

O estranho sentimento de não ter sequer o que sentir