Degelo
Do gelo e do fogo, fugiu-se logo,
num mundo azul,
pois de cada jogo
de outrora cansou-se.
Me afogo.
Me afogo na maré quando sobe.
Dos anseios glaciais,
nem o glacê de antes restou.
O polo norte está desmoronando
e eu à mercê do meu vítreo cenário.
Dialogo.
Dialogo friamente com a vida para decidir
Se o dia logo vem,
Se a noite longe vai,
ou se a noite acaba aqui,
ou se o dia subtrai.
Revogo.
Revogo gélido a mim
E a minha autoidealização,
E minha baixarrealização
e minha média qualquercoisealização.
Porque de algum modo, posse medir-me
Modicamente mediano.
Midiaticamente maçante.
Sinto-me níveo,
ao nível do mar.
Não cruzarei com frieza a fronteira pra Nevada,
não cruzarei mais nada,
ficarei congelado no mesmo lugar.
As calotas polares calaram os pulos
E descoloriram, paulatinas.
Estão desmanchando-se facilmente
nebulosas, em nevoeiros,
mas no meio delas vejo as coisas,
que no fundo são todas as coisas,
acenando, indo embora,
e mergulhando
desorgulhosamente melhores.
E o desejo de tê-lo,
Degelo.
Degenera-se tolo
Tijolo
Por tilojo num delírio ilógico.
Degelo.
Desalojo minhas lonjuras
e meus amores em desmazelo.
De gelo e de fogos e de amores
fuja logo
enquanto o resto derrete-se
aos arredores
em menores
geleiras sem cores.