Outro cálice

De que valeu toda luta

Contra a mentira, contra a força bruta?

Se a primeira tentação já te seduz...

Para que não beber desse cálice,

Se ao primeiro assédio

Já bebeste o vinho tinto de sangue?

Será que o pai não ouviu as lamúrias do poeta?

O monstro saiu da lagoa e mostrou a cara;

Apaixonaste por ele à primeira vista...

A fera, que é mais bela que o sonho da quimera,

Saltou do anonimato, da gruta;

E agora tanto faz ser filho da santa

Como ser filho da outra.

Os bêbados do centro da cidade são bisavós,

E, mesmo calada a boca resta o túmulo,

De onde jamais poderão gritar.

Se já era difícil acordar calado, agora...

Ressuscitar então a voz, imagina...

A palavra que estava presa na garganta

Saltou para longe de medo do medo que dá;

Calada, cambaleia por entre sepulcros,

No ermo entre as malditas filosofias.

O grito, por ser calado, é muito mais desumano,

É uma maneira de ser abafado.

Inventaram um pecado maior do que o teu,

Poeta maldito em hora maldita de calar!

O teu veneno foi bálsamo sagrado.

Estás atordoado com o silêncio?

Verás que um filho teu, filho da luta

gora se perdeu nas madrugadas

E podemos lhe chamar filho da outra.

Pai. sirva-nos logo outro cálice, pai;

Sirva-nos logo outro cálice pai;

Sirva-nos logo outro cálice de vinho caro do porto.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 28/05/2013
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