PELO TEU SANGUE
Quando me corria teu sangue
a respiração era mais fácil
o palpitar do coração vívido
e por onde as veias passavam
sobrevivia um doce aroma de lixívia.
O corpo era forte e firme
como um colosso sem nome e espada
que sobrevive aos anos
pela imobilidade da pedra.
A voz era branda e calma,
os olhos eram limpos e viam
a clareza do dia
como se não houvesse noite.
As trevas não habitavam o pensamento
pois teu sangue cheio de oxigênio
dava fôlego ao sôfrego cérebro
capaz de vomitar desesperanças
Ávido por novas sensações
tomei a droga da existência
e vi que o sangue em mim
corria por causa de ti
O Colosso desabara na primeira tempestade,
o ar sufocou-me, a voz tornou-se desesperada,
o corpo decadente, os olhos catarata,
o cérebro subversão, ódio, imoral.
Cada novo gole de existência
destruía mais e mais aquilo
que teu sangue construiu em mim
Até que só restaram coágulos
e as veias entupidas deixaram de dar vida
e só chegava em mim a morte
mas preferi aquilo pois em fim eu existia.
Só pra mim. Nada pode ser perfeito.
Do livro “ISTO”