ARMADILHAS E FRONTEIRAS

Passei por tantas armadilhas,

Cruzei muitas fronteiras

Durante o tempo em que renascia

Nessa minha vida de errante.

Bonecos, somos todos modelados com o mesmo barro,

Pelas mesmas mãos.

De que me serviu dizer sempre a verdade?

Venci na vida?

Venci nada. Indigente envelheci.

E não é o tempo que envelhece,

É o abandono,

A falta de perdão.

(Aprendi que o dinheiro compra todos os perdões,

O resto é léria.)

E eu que sou inhenho incorrigível

Fui morrendo de tristeza e de vergonha.

Se eu soubesse que iriam espalhar pela internet

A foto descolorida de um escravo morto

Com os cabelos presos e a pele tenra

Eu teria colocado uma camisa mais bonita,

Dessas que obrigam o sol a nascer

Seis horas antes do funeral.

Talvez eu fosse festejado.