ILUSÃO
ILUSÃO.
O atracar da noite é caminho
Obrigatório, silente e rápido,
Pronto para afogar-se em paixões.
E elas me possuem com uma languidez
Que, às vezes, me apavora.
Viver assim é como se estivesse
Contido em claustro existencial,
Perdido dentro de si, num infinito vazio.
Eu me engano e minto pra mim mesmo,
Numa hipocrisia auto-imposta e sabida.
Não querendo, recusando em aceitar,
O mundo, esse ergástulo complexo de ilusões.
Dói-me! É uma dor parecida com a saudade.
Sinto e não identifico a sua origem sem sentido.
O torpor sorumbático apodera-se de mim,
Do meu corpo e da minha mente, essa tirana psíquica,
Que cerceia o meu livre e fugaz trânsito,
Que faria dentro de mim mesmo, numa introspecção,
Para não abraçar de vez uma iminente loucura.
Por isso, não me encontro.
Vivo falsamente vivendo...
Propenso às ilusões e aos sonhos
Que drenam a minha mente com
Miragens à-toa criadas nela mesmo.
Sou um feixe de questionáveis emoções
Descontroladas, mal contidas, não assimiladas.
Em constante revolução, em conspiração, em ebulição.
Sou um poeta ensimesmado e prestidigitador da vida.
Sei admirar e ver com profundidade a beleza.
Aprecio todas as virtudes, deploro os “virtuosos”.
Na verdade, sou um projeto que não deu certo.
Um equívoco doentio e mal resolvido.
De alma branda, mas muito sofrida,
Mal contida em seu invólucro mísero.
Sou frio, calculista, mas razoavelmente educado.
De coração dúbio na espreita e sestroso.
Não fui jubilado e nem tão pouco amado.
Apenas estou,
Esperando o raio da sorte
Sei que sou a própria vida,
A vida pedindo pela morte.
Mas...
Compadeço-me ante o pobre e o fraco.
Eu sou forte, invencível e inatingível.
No entanto, adoro a fragilidade.
Abomino qualquer forma de tirania.
Detesto e repugna-me a vileza.
Não sei por quê?
Tendo à anarquia, desconfio do poder.
As criaturas viventes são aquilo,
Que nunca foram.
Reais, por isso,
Sou um feixe de emoções querendo
Ser. Abaixo as enganosas ilusões!
Que de viver assim, estou quase morrendo.
Eráclito Alírio