A HISTORIA NA ESTANTE
A HISTORIA NA ESTANTE
Na estante ornamentada,
la estava nossa historia de amor.
num livro de capa dura,
o desenho de um coração em alto relevo
parecia ter vida, pulsava e chamava a atenção.
nossa historia pulou dos nossos corações
para um livro que explodiu em vendas.
nas livrarias foi best seller
e liderou o ranking por muitas semanas.
nas maquinas frias de impressão,
a tinta que pintou nossa historia
foi o mesmo sangue que escoou
das nossas veias.
foi o mesmo sonho que tornou-se pesadelo
depois que foi classificado como um historia de amor,
digna de um livro
empoeirado numa estante pomposa e exibida.
a historia perdeu o encanto, o misterio,
depois que ela foi catalogada.
nos tornamos protagonistas
e deixamos de ser amantes.
nos deram um crachá que nos identificaram
e ao mesmo tempo tiraram nossa identificação.
tivemos que seguir prólogos e enunciados,
paragrafos e hiatos arranjados,
porque a frase chegava ao fim da linha.
colocaram-me um gravata,
que diziam ser artistocratica.
uma flor nos seus cabelos
que combinava com o poente da tarde.
realmente foi um arranjo que nos desarranjaram.
ficamos sendo conhecidos como o mocinho e a mocinha,
o casal modelo, o look dos olhos dos outros
e deixamos de ser os olhos de cada um de nós.
a saudade deixou de ser saudavel
para tornar-se uma agonia, um desespero
e sintetizada apenas em um lenço branco num caís de porto.
deixamos de sermos humanos
para nos tornarmos um livro;
de capa dura
de folhas frias
de desenhos feitos por "artistas"
que sabiam pintar o amor.
tiraram-nos da nosso ninho
e nos colocaram numa estante,
emoldurada de luzes artificiais
flores de plastico reciclado
acessivel a todos.
supriram nossos desejos
com autografos de caneta 'bic'.
surrupiaram nossas volupias
e de troco deixaram-nos nus,
da pior exposição possivel
para que atingissemos o publico alvo,
mas o que foi alvo, foram nossos sentimentos,
o nosso olhar de cumplicidade,
nosso riso de contemplação
nossa exclamação de alegria
pela montanha escalada.
de amantes a tema de enredo
foi uma decadencia.
lá estamos nós;
empoeirados e enfileirados,
etiquetados e classificada,
na biblioteca nacional sob o numero:
2345639541782750285492341198458
no corredor de romances diversos.
que chato!
di camargo, 18/03/2011