Vida?
Breve faz-se a existência,
Em um instante
Risos altos,
Em outro instante
Choro amargo.
Riso e choro valem algo?
Por que rir?
Por que chorar?
Por que se lamentar ou alegrar
Com o final do pesar?
Breve existência?
O que é mais breve do que
A mentira caindo como a neve,
A mentira de que estamos
Supremos e realizados?
Vida?
Vida?
Vida?
Achas que vivemos quando
Estamos aqui caminhando?
Caminhando sem ao menos
Enxergarmos o ponto
No qual parados
Seremos enterrados
Quando começamos?
Muitas perguntas te assolam?
Muitas perguntas?
És tão poeta como eu,
Amigo indagador,
És tão cadáver como a Humanidade.
Nossas forças apagadas
Iludem-nos,
Nossas chamas nunca
Acenderam-se,
Gotas inúteis somos.
Celebramos aniversários,
Celebramos natais,
Celebramos anos-novos,
Celebramos nascimentos,
Quanta imbecilidade!
Nada devíamos celebrar,
Pousamos em nenhum ninho,
Vazios de essência somos,
Filhos de tudo no Nada feitos,
Faces míseras carregamos.
Tudo devíamos celebrar
Quando os nossos corpos
Descem ao sepulcro
Ou são cremados,
Livres finalmente!
Tudo devíamos celebrar,
Saímos da morte viva de viva morte,
Da Morte Mãe deste mundo,
A Rainha Dos Natimortos,
Livres finalmente!
Tudo devíamos celebrar,
Se Faz Verdade A Verdade,
A Mentira Da Carne
Permanece neste Inferno,
Livres finalmente!
Tudo devíamos celebrar,
Nossas mãos não são
Mais cálidas,
Somos Sopro,
Livres finalmente!
Tudo devíamos celebrar,
Trabalho maldito findado,
Sofrimento finito sanado,
Dor vadia vencida,
Livres finalmente!
Tudo devíamos celebrar,
Chega de chorar,
Chega de ilusão,
Chega de luta,
Livres finalmente!
E nós celebramos,
Livres finalmente,
Finalmente libertos
Do nosso estrangulamento
No cimento material?
E nós celebramos
O suspiro derradeiro,
O maior de todos os suspiros,
Livres finalmente,
O Suspiro Pai Dos Pais Dos Suspiros?
Que infelizes somos,
Nós não celebramos,
Como crianças nos agarramos
Aos brinquedinhos que
Criamos supostamente vivos.
Nos apegamos a brincadeirinhas,
Como a de que nossa morte viva,
Bela morte real,
É bela vida adoçada
Pelo mel da felicidade.
Nesse apego infantil
Fugimos da Cadavérica,
A nossa verdadeira
Mãe adorada,
Maior do que Deus.
Deus nos envia
Ao Túmulo Da Matéria,
A Cadavérica nos abençoa
Com A Chave Do Paraíso,
Quem é o maior afinal?
Talvez blasfemo em tudo
Meu Eu-Poeta-Filósofo seja,
Contudo amo mais A Cadavérica
Do que a Deus,
Amo A Grande Libertadora.
Infinitas vezes Ela me abraçou,
Me recordo de todas essas vezes,
Me recordo de Deus também
Fazendo morto o meu Espírito,
Lançando-me nas Trevas Materiais.
As Trevas Materiais
São as nossas assassinas
E vocês que acham
Que A Vida Verdadeira é esta,
Querem Nelas eternizarem-se?
Vida?
Vocês amam suas mortes vivas?
Vida?
Vocês desprezam A Cadavérica?
Vida?
Riam alto,
Chorem amargamente,
Enquanto eu me valho
Da esperança feliz de ver
A Lâmina Da Foice libertando-me...
Riam alto,
Chorem amargamente,
Já ri mais,
Já chorei mais,
Aprendi a ser incapaz.
Neste fosso da carne
Aprendemos tanto,
Para um alto almejamos,
Para um baixo caímos
Para nadar afogando-nos.
Aprendemos tanto neste esgoto,
Podres são os humanos,
Corpos frágeis,
Mentes apagáveis,
Almas e Espíritos vulneráveis.
Tão bem vemos
Uma criança nascendo,
Pobre humano,
Mais um ao fosso guiado,
Mais um ao esgoto vomitado.
Felizes as crianças
Que não respiram
As paragens imundas deste esgoto,
A Cadavérica desafia a Deus
Abraçando-as antes da Queda.
Felizes as crianças adultas
Apegadas a este solo sujo,
Que mesmo involuntariamente
São abraçadas pela Cadavérica,
Retirados da Queda.
Queda...
Vida...
Queda e Vida,
A mesma mortalha,
A mesma tortura.
Abro os meus braços,
Abro-os para
A Ave De Livres Ossos,
Ela vem lenta,
Cantando sonetos serenos.
Bom apreciador musical,
Eu dou notas complementares
Aos sonetos,
Recitando poemas chamativos
De Sua Presença.
Chamo-Te consciente de Ti,
Cadavérica,
Esta fétida morte viva,
Esta fossa vívida,
É maldição cintilante!
Chamo-Te consciente de morrer,
Cadavérica,
Morrer verdadeiramente em breve,
Morrer verdadeiramente amanhã,
Morrer verdadeiramente agora!
Vá embora, morte viva!
Deixe-me, morte viva!
Desprezo-te, morte viva!
Odeio-te, morte viva!
Renego-te, morte viva!
Eu lhe quero longe, morte viva...
Eu Lhe quero perto, Cadavérica...
No entanto,
O Deus contra o qual blasfemei
Castiga-me dando-me as duas sempre...