O METABOLISMO DO DESGOSTO
Tento entender
A transformação
Que acontece
No meu coração
Que sofre consciente
Do que há de ser...
Deixo a dor acontecer
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Vou versejando
Sobre a dor que sinto
Da violência
Que subjetiva mente,
Enquanto sinto a dor
Concretamente...!...
— Porque a dor da perda do amor é concreta.
Dor de amputação
Do outro de dentro de mim
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Só pode descrever
Essa dor quem a sente
É como morrer e ver-se vagar...
É arder dia e noite sem cessar...
Sei que por um tempo
Em cadeia se desdobrará
Minha aflição se estenderá
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Hei de suportar
A sensação de sufocar
Grande esforço eu faço
Para respirar...
Melhor seria deixar-me
Imóvel ficar...
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Com o pensamento
Caótico, desordenado
Minha cabeça vaga
De um a outro lado,
Acompanha vazio...
O vazio do meu olhar...
Nada mais tenho agora
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Ligo o sinal de alarme,
Não arrisco mais o atalho
Eu que ia pela trilha
Deslumbrada e cega
Deixei avançar meu ser
Para dentro do seu,
Que me guiava
Com carinhos...
Palavras doces...
Tira de mim esse punhal!
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Agora me arrasto consternada
E travo fronteiras
Com cerca de arame farpado
Que durará algum tempo eu sei...
No meu íntimo que não pode suportar
O enredamento que me aflige
Em crer que chegamos ao fim
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Rasgando o peito fundo
Meu coração a lamentar,
Se nem estávamos no começo...
E tudo fere e avança
Ao limite que não conheço...
Logo e tanto em lágrimas,
Afundo-me em torpor
Mas essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Abandono delirante
O sonho de vida em comum
O que em mim se despede...
É o luto de nós dois
Derramo a ansiedade
E o desespero a me resilir
Nada posso, se não deixar-nos ir
Bem sei que não é possível
Interromper
O metabolismo do desgosto
Mas nele está o milagre:
É em meio à dor,
De onde nunca se imaginaria
Que renasceria a flor
Eu sei que essa dor há de ter fim!
Porque o amor
Não se extinguiu em mim!
Por quê? Essa é a minha natureza:
O AMOR!