Meu Português

Vós-me-cês hoje

Já não é o mesmo.

Minhas palavras hoje

Estão andando a ermo.

Perderam-se num caminho

Mudado por alguns soberbos.

Eu não sei

O que há com o mundo,

Nem por onde foram

Os corretos.

O que fizeram

Com os hífens?

O que houve com os

Ditongos abertos?

Saudades do meu beija-flor

Nem cinqüenta reais pagam

Seu valor.

Meu coração entristecido

Assim como o de Maria,

Não a mãe de Deus,

Mas filha do nosso Senhor,

E grande mãe dos seus

Criados com muito amor.

Pesa no peito meu

Que embora restasse os dedos,

Os anéis já não existam mais,

Arrancaram a sua beleza

Feito fantasias em fim de carnavais.

Além de tudo

Eu sou mineiro de pé no chão.

Pros dias de festa

Tem pão-de-queijo,

Pros dias comuns, queijo no pão.

Muito antes do diploma

E papel carimbado,

Revelo meu conteúdo

Como um escritor tarimbado.

E daí? Talvez não seja.

Mas aí é que está a peleja.

Minha gente ama falar

E fala de um jeito

Todo próprio.

Seja em monólogo,

Ou seja em colóquio.

Meu desejo maior

É um dia

Todos virem poetas.

E então todos licenciados,

Que possam estar certos

Mesmo escrevendo errado.

Cadim Martins
Enviado por Cadim Martins em 25/11/2010
Código do texto: T2636646