Meu Português
Vós-me-cês hoje
Já não é o mesmo.
Minhas palavras hoje
Estão andando a ermo.
Perderam-se num caminho
Mudado por alguns soberbos.
Eu não sei
O que há com o mundo,
Nem por onde foram
Os corretos.
O que fizeram
Com os hífens?
O que houve com os
Ditongos abertos?
Saudades do meu beija-flor
Nem cinqüenta reais pagam
Seu valor.
Meu coração entristecido
Assim como o de Maria,
Não a mãe de Deus,
Mas filha do nosso Senhor,
E grande mãe dos seus
Criados com muito amor.
Pesa no peito meu
Que embora restasse os dedos,
Os anéis já não existam mais,
Arrancaram a sua beleza
Feito fantasias em fim de carnavais.
Além de tudo
Eu sou mineiro de pé no chão.
Pros dias de festa
Tem pão-de-queijo,
Pros dias comuns, queijo no pão.
Muito antes do diploma
E papel carimbado,
Revelo meu conteúdo
Como um escritor tarimbado.
E daí? Talvez não seja.
Mas aí é que está a peleja.
Minha gente ama falar
E fala de um jeito
Todo próprio.
Seja em monólogo,
Ou seja em colóquio.
Meu desejo maior
É um dia
Todos virem poetas.
E então todos licenciados,
Que possam estar certos
Mesmo escrevendo errado.