Azul negro

As noites escuras me ferem. Os braços longos e pesados da escuridão apertam meu coração. Não porque o negro me dê medo, mas porque não consigo suportá-lo. Dói. Sinto a vida espremida pelo flagelo de viver sob um céu escuro, amando uma noite estrelada.

Para os que pretendem enxergar a essência do homem busquem seu passado, suas histórias, suas experiências ou simplesmente o que lhe fez chorar ou sorrir. Por isso, quando descobrir em seu presente apenas uma possa d’água, entenda que a vida o fez morrer.

O presente procura o prazer. Aproxima-se com seus lábios quentes e toca sobre a pele fria. Um momento de êxtase. Quando a mão trêmula desliza pelas curvas da beleza do hoje, o delírio invade a alma. Porém, isso é só desejo, uma vontade do agora e da carne. Um céu sem estrelas.

As lembranças fazem suspirar, arrepender, repensar, idealizar. Mas o céu negro desta noite é mais agitado, mais recompensador, mais limpo, mais dedicado ao presente do que ao futuro. Um céu infantil, falante, interessante, bonito, mas só um céu, sem estrelas.

Quando contemplo as estrelas, alcanço além. Imagino o futuro espelhado nelas e a satisfação dessa suposta realidade.

Não quero decepcionar o céu, porque ele é lindo em seu tenro azul. O fato é que sou apaixonado pelas estrelas. Acho que simplesmente discrimino a escuridão. Talvez a queira hoje, mas amanhã não a suporto mais. Suspiro estrelas. [Pausa] São brilhos singulares e movimentos sutis que me fascinam. Será que esse céu, o de hoje, pode um dia ser repleto de estrelas?

“Ferida que dói e não se sente”. Não sou feliz sob esse céu. Sou excitado. Não consigo suspirar nem gritar para a escuridão que não conseguiria viver um só dia de sol. Hoje, minto, e o pior, para mim mesmo. Não quero que o céu se entristeça e viva uma imensa tempestade. Desejo unicamente ter as minhas estrelas no meu céu. Lembrando do passado que se reflete no futuro.

Cabreira

Cabreira
Enviado por Cabreira em 11/10/2006
Reeditado em 11/10/2006
Código do texto: T261827