pirraça
despenteei-me toda
diante do espelho
fiquei parecendo maluca
uma mulher ultrajada
sem ter que fazer maquiagem
ou ir ao cabeleireiro
querendo do mundo inteiro
dó, piedade, paixão
sem ter que levar pela mão
a bolsa com meus apetrechos
sem ter que ser tão feminina
andando de salto alto
sem ter que sofrer sobressalto
ao se deparar com o amor
despetalei-me toda
diante de todas as flores
pra que não sentissem inveja
pra que eu ficasse esquecida
e só no imenso jardim
pra que eles com pena de mim
viessem correndo dizer
aquilo que nunca disseram
pra que eles fizessem chover
a água de que precisavam
pra que eles achassem que estavam
cumprindo uma obrigação
pra que compreendêssemos tudo
e nada com exatidão
pra que não sobrasse senão
a nossa obscenidade