Rosa Impudica
Olha p’ra os lados
Ela me esqueceu...
Piscadelas ao vizinho
Traído sim, fui eu!
Em carícias foi a ti
E ouvi dizer, assim:
- Agora és tu,
Cobre-me de gozo.
Fita teu lábio
Com doce inocência
A paixão sucumbiu
A si em decadência.
Tu não pôdes julgá-la,
E sei que disse murmurando
Baixinho no ouvido seu:
- Ó, rosa impudica
Teu pólen não é meu...
Ela foi a ti
Ela foi sim
Ela me esqueceu...
Lembrei que também não eras minha,
Lembrei que amara a ti em sonho,
Lembrei ter o teu lábio, ao travesseiro,
Babando a fronha bem bisonho...
E como tudo um dia acaba...
Como o próprio dia que te amei,
Pensei chorar um dia...
Mas essas lágrimas sequei.
Assim como velei tua partida,
Com lágrima já bem escassa,
Vi-te beijar um ébrio
Com tua boca devassa...
Se tua vida fosse um livro,
Suas páginas estariam desbotadas,
Nas letras manchas de sangue,
E capítulos em sinas desgraçadas...
Mas tendo prazer em alguns parágrafos,
Faz entender o tormento de quem os leu,
Mas a este pobre diabo,
Só resta ao menos pensar, que se esqueceu, que se esqueceu...
Ou então se iludir, dizendo:
Ela foi a ti
Ela foi sim
Ela me esqueceu...