Devaneio
Ainda penso na palavra amor
O que será afinal que ela poderia ser?
Uma dama com um corselete apertado
Com uma fita azul dourada enlaçando suas coxas?
Ou será apenas uma dolorosa metáfora
Que brinca de pique - esconde enquanto anda pelas praças
Fazendo o rubro do rosto das moças com seus olhares furtivos
Chamarem meu peito a um solavanco
Ou suas marcas são as garras que fecundam meu desprezo
Não sinto nada além de tal solavanco
Deixo-a passar com seu vestido de carmim
E finalmente a chama se apaga
Como uma lâmpada, descobri o interruptor
Acende, apaga, acende, apaga
É uma brincadeira que cansei de participar
Me sinto cansado
Talvez no fundo esteja velho,
As palavras antes tão doces, agora me cheiram a promessas
Amantes de longe me soam tão... Inocentes
Toda vez que vejo uma rosa lembro-me que ao tocá-la
Seu espinho me envenena
Como uma poção feita pelas bruxas que habitavam as florestas
E sinto-me cego, pronto para me jogar
A verdade é que todo homem teme
Teme por sua sanidade
Que mais e mais se esvai
A cada levantada de uma saia
E um par de olhos cheios de doçuras
Ninguém é imortal
Mas temos o mesmo ponto fraco
Coração, coração
Porque afinal me banhas de sangue?
Para provar que um dia tudo se congela?
Dor, dor, e dor
Faz a vida parecer viva
Intensa de acordo com a dose que se toma
Tudo o que peço é paz
Mas esses querubins gostam de me infernizar
Talvez porque eu seja o alvo
Que os consegue enxergar
E lhes dê até força... por acreditar.