Queimei os meus poemas
Por causa do frio que chegou
Porque a lágrima secou
Por causa do fim de um amor
Porque a dor passou
Queimei aqueles poemas
Que falavam do amor platônico, da saudade, do acaso, da descrença
Os que falavam de mim, deixei ficar os rascunhos
Os primeiros versos de momentos vividos
Os segundos mortos, dor nos punhos
A gaveta do criado-mudo estava cheia
Dos poemas que gritavam mas ninguém ouvia
Das palavras soltas nas linhas tortas que escrevia
Da caneta escorria o azul-escuro da tinta borrada
Quando o papel abria, lia e depois amassava
Joguei na lata do lixo, o que era lixo
Peguei a caixa de fósforos, para ter o fogo em minhas mãos
Risquei o palito reflorestado, acendeu a chama, incendiou as líricas
Pude ver em meio as cinzas se formando do pedaço de uma estrofe
Pude ver uma chama mais azul, iluminava algumas palavras como:
Amor, Dor, Sossego, Perda, Vida, Novo, Mudar, Passar, Sorte
Palavras que eram por si mesmas, lindos poemas, singelas poesias
Que o fogo da paixão queimou, que no céu seria declaração de amor Num show pirotécnico, de um foguete sem pavio
Cinzas dos papéis desintegram, evaporam no ar
Mas com estas cinzas que um verso vazio irei começar.