Fim de caso.
Prestando atenção em meu coração
surpresa fiquei ao perceber
que ele não é mais o mesmo.
O mesmo de quando tudo começou.
Não, ele não é.
Sua cadência está bem diferente
De outros tempos, tempos melhores
Quando mais forte ele batia.

Na quietude dos meus pensamentos,
Foi assim, de repente, que percebi
Que meu coração não sabe, de verdade
Reconhecer o verdadeiro amor.
Já que tão certo ele estava, do que não era amor.
Pode até ser que o amor não tenha sido feito
Para ser compreendido. Pode ser.
Talvez tenha sido feito só para ser sentido,
Mas o sentimento em mim é de pura dor.
 Dói fundo, uma dor que vai além dos ossos
E dos músculos, trespassando como um punhal
De lâmina fina e afiada.
Dói tanto que penso que vou desaparecer
No vácuo dessa dor. Não ser mais quem sou.

Como posso acreditar que tão de repente
 O amor deixou de existir, assim do nada?
Ou fui eu que não percebi que ele já vinha
Se esfacelando, esfarelando, se acabando?
Ainda ontem a vida era um jardim de flores
Coloridas, nuances diferentes para cada instante.
As palavras que nos dissemos no até breve, amor
Foram tão doces que ainda sinto o gosto
Dos seus lábios roçando os meus de leve,
Como uma flor do vento.

Ah, ontem podia a vida ser tão bonita,
A partida só desejando a volta.
Mas hoje só quero ter de novo as rédeas
Que lhe dei, do meu coração. Mas por que dei?
Estranhas são as razões
de um coração apaixonado.
No entanto, apesar de tudo, de tanto espanto,
Viveria a mesma vida outra vez,
Mesmo sabendo do mesmo fim, da mesma dor.
 
Não há o que fazer, não há o que mudar,
O que foi, foi. O que é, é. E o que será ainda será.
O sentimento acontece e quando acontece
Precisa ser vivido até ser destruído.
É assim que sinto. É assim que o sangue
Aquece as minhas veias. Mas quando acaba, acaba.
Não há volta depois do fim.

Quando uma estrada termina
Só resta novo caminho buscar.
Não há o que fazer, só rasgar
S
uas últimas palavras,
Acender uma fogueira e queimá-las.
E enquanto o fogo arder consumindo as brasas
espalhando as cinzas além do tempo
                                  além do espaço,
Abrir uma garrafa de vinho tinto
E beber até a última gota
Enquanto o meu cérebro repete, aturdido
O seu adeus final: Cuide-se, cuide-se, cuide-se...
 
(poema inspirado no caso de amor de Sophie Calle e Gregoire Bouillier)