Boemia
Boemia
por Pedro Moreno (pedromoreno.com.br)
Por pura sorte
minha mente torpe
não assimila,
nem critica,
todos os meus erros
e ainda exalta meus poucos acertos
O borbulhar do gim
envenenando meu rim
desce lento a garganta,
cobre-a feito manta,
e pela noite afora
faço minha desforra
Da minha casa fujo
para algum lugar sujo
onde eu me satisfaça,
seja com bebida ou uma devassa
mulheres pagas eu desejo
amigos bêbados eu tenho.
Quando a lua está alta
e o céu escuro a respalda
já não sou homem ou animal
ganho uma feição bestial
ajo tal qual criança
perde-se toda esperança.
Risos escarnecidos
trôpegos desguarnecidos.
Em suas casas a patroa
lhes preparam uma salmoura
para o marido infiel
que só lhes traz fel
Apresentei-lhes minha boemia
talvez minha última alegria
agora deito num canto escuro
fecho a cara, fico taciturno
esperando que minha sorte
traga de vez a esperada morte.