Restos do que partiu
Chove na nuvem d’encardidas estrelas
choramingando aquela névoa estancada,
até quando a longa fímbria translúcida
assoma gotas no palco, sem possuí-las,
e afoga meu pranto, úmida voz sumida
em meio ao silêncio de águas tagarelas,
ruas brancas,regueira no chã'enterrada,
ouvido surdo ignorando a prece velada!
À deriva, do oceano me escondo na ilha,
que contudo cresce no centro das vagas,
deixando de ser fimbria solta sem trilha.
E m’encosto nas paredes altas tão cegas,
por apenas silênci’escaladas,que zelam
para não caírem quebrando os espelhos,
que as marolas fatais beijam e amassam
com unhas bravas sob mansos orvalhos!
Perdida, chovida, ilhada;alma chacoalha
na furia d’água acima e abaixo andando,
conchas me fez o fio incisivo da navalha,
mar de braços cegos, látego chicoteando!
Santos-SP-30/07/2006