O disfarçe do farçante

Ele tem um quase sorriso que na verdade é um deboche

Tem uma presença marcante que ele dá

Que nada mais é, que um sinal do breve adeus

Ouvir da boca dele palavras doces é cair no mel dos infelizes

Assim, como eu

Eu, que assisti mais do que o seu espetáculo me mostrou

Que aplaudi muito mais do que o restante da platéia pode reproduzir

Acreditei no seu texto bem decorado, melhor que um bom ator

Aquela máscara não caiu porque seu rosto não possui cor

Ninguém define se é comédia ou mero terror

As promessas de ''gran finales" você entoou

Eram sim, garantias de muita solidão e dor

Interpretações que só você dava forma e ar real

Confiar na sua amostra, já não seria bom sinal

O seu toque(que não era de 'Midas'), não passava de uma febre

Inflava e expandia seu ego interrogador

Pode-se imaginar o que no dia seguinte seria

Você, nada valeria para aquele público que palmas te concede

Seus beijos em cena, significam o cuspe de uma repulsa

Nunca foram de paixão tampouco de amor

"Sabe-se lá o que é isso?": você questiona

Tem apenas um objetivo:causar maior rancor

Quando danças, seduz e envenena os olhares do espectador

Seu abraço incena o nó-cego que esse laço enfeitou

Que enforca antes mesmo de ser sincero aos nossos olhos

Que pragueja, deixando solitário os corações de quem pagou

Pagaram pra ver-te receber sem dar e sem crer

Estas almas nas fileiras da frente, você destruiu por querer

Viam-te em pecado e em pecado estavam ao te conhecer

Você é perverso, é auto-destrutivo, indeciso, é pecador por prazer

Para quem viu e levou ao teatro o amor

Você deu dias chuvosos, noites de lágrimas

Esperanças para não poderem se desesperar

E no tablado que teus pés suporta

Você continua disfarçando ser ganhador

Você é um ator cheio de mágoas que até parece gente

Sua apresentação nada coincide com a existência

Tente viver no seu mundo sozinho

Talvéz torne-se perfeito para suas farças

Represente na vida o que dos outros você tenta achar graça

Venha até a ponta, artista repleto de vazio!

Arda em brasa seu medo de sair de trás dessa cortina estampada

Onde os aplausos não te suprem, nem invaidece

Admita-se pobre, carente nessa confusão de quem é realmente gente

E abandone tudo aquilo que você não sente

Para uma próxima temporada ensaie ser farçante de si mesmo

Vê se torna-te mais paciente

Porque ali no corredor se vai o público não mais tão presente.

Erika Soares
Enviado por Erika Soares em 02/09/2009
Reeditado em 20/04/2015
Código do texto: T1787794
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.