O Casamento
Triste moça. Viu seu mundo cair na porta da igreja.
O noivo fugiu sem motivos. Mas fugiu.
Meio que sem acreditar, caminha só até o altar.
Agora, seu vestido é roxo, como o forro de um caixão.
O chão da igreja está cheio de pétalas de lágrimas.
Seu buquê é o crânio de seu amante.
Há um silêncio, ninguém ousa consolá-la.
Perante o padre ela diz "sim" para o vazio, põe em seu
dedo a aliança e ensaia um sorriso.
Quando retorna à consciência, é obrigada a peitar o
pesadelo, mas ele é mais forte. A moça cai.
Lava com lágrimas de sangue os pés da imagem do Senhor,
o culpa. Quem mais seria o culpado?
Amaldiçoa todos os presentes. Cospe na água benta.
Mas de nada adianta. O amor resolveu aprontar com essa
moça. Fez uma molecagem de mal gosto.
Sem palavras, sem forças, sem alguém, é obrigada a se
amigar com o abandono, ter filhos com ele, dar para ele todas
as noites, sem reclamar, pois ele foi o único que a quis.
Essa moça não consegue se reconciliar com a paixão, julga-a
um desperdício. Prefere dividir o leito com o nada a se lançar
em outros leitos em busca de um novo amor.
Paciência.