O Casamento

Triste moça. Viu seu mundo cair na porta da igreja.

O noivo fugiu sem motivos. Mas fugiu.

Meio que sem acreditar, caminha só até o altar.

Agora, seu vestido é roxo, como o forro de um caixão.

O chão da igreja está cheio de pétalas de lágrimas.

Seu buquê é o crânio de seu amante.

Há um silêncio, ninguém ousa consolá-la.

Perante o padre ela diz "sim" para o vazio, põe em seu

dedo a aliança e ensaia um sorriso.

Quando retorna à consciência, é obrigada a peitar o

pesadelo, mas ele é mais forte. A moça cai.

Lava com lágrimas de sangue os pés da imagem do Senhor,

o culpa. Quem mais seria o culpado?

Amaldiçoa todos os presentes. Cospe na água benta.

Mas de nada adianta. O amor resolveu aprontar com essa

moça. Fez uma molecagem de mal gosto.

Sem palavras, sem forças, sem alguém, é obrigada a se

amigar com o abandono, ter filhos com ele, dar para ele todas

as noites, sem reclamar, pois ele foi o único que a quis.

Essa moça não consegue se reconciliar com a paixão, julga-a

um desperdício. Prefere dividir o leito com o nada a se lançar

em outros leitos em busca de um novo amor.

Paciência.

Assis William
Enviado por Assis William em 26/05/2009
Código do texto: T1616151
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