Morte Astral

I

Como uma taciturna coruja que observa silente

A noite, eu – estagnado – procuro

No mundo astral, o obscuro

Aroma do teu corpo ausente

E todas as moléculas de tua essência nua

Para nos agregar-mos e irmos à lua.

E errando pelos falsos devaneios

Desse fantástico ambiente

– Mesmo estando ciente

De que ele faz parte dos meus anseios

Inconscientes cheios de desventuras –

Me consolo sobre nossas duas sepulturas.

II

Mas tu não quiseste minha ternura

Nem o júbilo do meu coração;

E me deixaste morrendo sem atenção

Pela floresta escura

Do esquecimento, enquanto que um ignaro qualquer

Consegui conquistar teu amor de mulher.

E por teu amor caro paguei com minha vida!

Caí nas profundezas da escuridão...

Sinto minha infinita afeição

Extinguindo-se cheia de feridas, vencida,

Se refugiando na trevosa chaga da morte astral.

Tudo morto agora, tudo sepulcral!

III

Soledade? Não! Vultos de mágoas e fracassos

Fazem-me companhia na etérea

Morada – os sonhos estão escassos –

De minha inconsciência funérea.

Sinto a frialdade mórbida do meu quarto.

Oh, por que não morri durante o parto?!

E vagando pela imponderável

Neblina do meu pensamento,

Vejo que a morte física é inevitável

E terei que conviver com esse arrependimento

Infindo sobre a tumba da vida;

Sob a mortalha da esperança esvaecida!

(abril/2007).