Desventura
Se um dia o venturoso vento te convidar
Cuida se queres realmente te aventurar
A dita é incerta, a palavra, modesta
Em seu prometer, nem sempre há festa
Aquele cavalo ainda te leva para casa?
Manso e cansado, ainda tem lombo?
Queres outro, louco, ousado e vivaz?
Sentir o pêlo roçando em novas cócegas?
Apostador alto, na roda dos entediados,
Tu és, leve pluma presa num travesseiro
Que se quente, é também a ti abafado
Agora, pirata, ao mar, useiro e vezeiro
Pensa que és?
Tens boca para engolir?
Tens barriga que tudo digere?
Tens saldo para pagar à banca feroz?
Tens corda para, em lama, escalar o fosso de volta?
Tens ao menos bóias para restar à deriva após o naufrágio?
Calmaria? Parece tudo em âncora infinito
Ventania? Aí pode tudo estar perdido