Lamento de uma ave canora

Ah, meu senhor...

Se não sabes mais se me queres,

Ao menos me liberta!

Me deixa seguir minha vida,

Mesmo estropiada e com uma asa partida,

Ao invés de ficar me amarrando...

O teu silêncio vem me cansando,

Me enlouquecendo...

Meu canto sempre te disse tudo,

Mesmo que fosse uma cruel verdade...

Do que tens medo?

Porque a falsidade?

Diz logo que não mais me queres e me deixa ir!!

Por favor, põe um fim a esse tormento!

Eu não aguento mais meu próprio lamento!

Tudo que eu sonhei contigo passou a me envenenar!

Me liberta, me deixa voar!!!

É ilegal me manter assim, no cativeiro!!

Eu queria o céu, o sonho, a compreensão...

E tu me destes uma prisão!

Uma gaiola dourada,

Onde só tu podes me ouvir cantar!!

Por favor, me deixa voar!!

Já me partiste uma asa,

Mas ainda me resta a outra...

Deixa-me agitá-la ao menos...

Dá-me essa pequena ilusão de liberdade!

Do céu azul eu sinto saudade,

Mas o fito entre grades,

Trinando na escuridão...

Que tipo de querer bem é esse,

Que relega um dos lados a uma prisão?

Que fere, mutila e quase mata de tristeza?

Decerto, nesse sentimento não há pureza...

Apenas um egoísmo sem par.

Por favor, me liberta...

Me deixa voar!!!

Me deixa voar antes que minhas asas se tornem mortas...

Por favor, abre estas portas...

Escancara a gaiola de ouro, me deixa voar...

Se realmente querias meu bem,

Deverias ter me deixado livre para escolher meu lugar...

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Os dias passaram...

E quando me pegaste em tua mão,

Tarde demais percebi...

Não ias me libertar da prisão.

Eu não era amada...Era um troféu.

Querias apenas teu bem estar.

E com um rápido talho,

A carne ficou marcada, retorcida...

Meu grito de agonia encheu o ar.

Mas, tarde, te destes conta de teu erro...

Mutilada, não mais te servia...

Não podia ser exibida,

Os outros não iriam te invejar...

E como era esperado,

Simplesmente me deixaste de lado...

Se eu queria viver, teria que sozinha lutar.

Mesmo em agonia,

Lutei e voei...

E hoje tenho outra morada...

Mas...

Não sei mais confiar.

Por isso até hoje,

Entre as ramagens,

Estou encolhida...

Pequena ave canora ferida...

Não mais canto...

Não quero mais cartar.

Desiludida e infeliz,

Olho para minhas asas mutiladas

E choro...

Fizestes isso de propósito...

Não pra me proteger...

Não por me amar...

Simplesmente porque, um dia,

Resolvestes que, sem muito sofrer,

Eu não poderia mais voar...

Zannah
Enviado por Zannah em 09/10/2008
Código do texto: T1220138
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