Absinto (Uma nova mentira)
As cores da noite vão e voltam
Em surtos de falsa magia
Os horrores do mundo despontam no céu dos perdidos
Bebo mais um gole para ver se o mundo some
Agora as coisas parecem diferentes
Tudo faz parte de uma fuga desesperada
De um cotidiano que me envenena aos poucos
E não me muda
De um mundo que não melhora
E não me faz feliz
As sombras se esgueiram pela lua
Os mundos me observam num último suspiro sem luz
A palheta perdida das cores me envolve em um abraço opaco
Numa dança sincopada por tambores
E a noite vem chegando pra me levar
Entrego-me ao bosque
E com ele viajo pela eloqüência perdida dos dias
Sem saber aonde me leva
Eu vou aos seus braços sem notar
Que entre as árvores o dia desponta
Nesse momento não vejo mais nada
Embarco na nova noite
A noite dos pesadelos recriados
A noite das ilusões e mentiras
A eterna noite que eu criei
E na qual devo permanecer até o fim dos dias
Mais um gole de dor
Uma garrafa de máscaras
Uma dose sofrida de sangue
Eu tento escapar
Mas ele me agarra
E me arrasta com ele
O negro manto da noite
Onde olhos sedentos por agonia me observam
Já sinto saudades de casa
Aonde o mundo não gira mais
E o entardecer é sempre o mesmo belo e eterno sofrer
Criei uma nova ilusão
Da qual não posso mais fugir
A ilusão da realidade sem vida dos homens
Triste e fria e dura e pálida
E no entardecer em que a noite cai mais uma vez
Ela vem seguida de longos anos no escuro
Eu me perco na injusta procura de uma luz,
Um apoio...Um socorro...Uma nova mentira...