ABSTINÊNCIA
Na abstinência a que nos propomos
Para ficarmos longe do sofrer,
Não deixamos de ser o que já somos:
Amantes, apaixonados sem querer!
Querer um bem ao bem querido
A tal ponto, que querendo tanto,
O bem que era bom vira castigo!
Já não é prazer, é desencanto!
E não trazendo o bem se torna um fardo
Dolorosamente pesado ao coração.
O desejo fica, então, mal acabado,
Se se quer demais só por paixão.
Sobra o desejo a perturbar a calma:
Incontido, intenso, persistente.
Se o quero tanto, com o corpo e alma,
Porque não posso tê-lo simplesmente?