Todas as borboletas estão mortas.
pela manhã a cortina entre-aberta convida o sol a entrar pra me tocar o rosto. subtamente, acordo sem você em minhas pálpebras, abro os olhos já tão mais leves, e solto um suspiro que eu não tinha notado, mas segurava a dias.
sinto, por antecipação o cheiro do chá matte que eu ainda não fiz. e experimento na lingua o gosto do nada. todas as borboletas estão mortas.
com os fragmentos do que restou, corto a minha própia pele tentando extrair de algum lugar dentro de mim, algo pra sentir. grito pras paredes pra sentir o impacto das ondas voltando pra mim, almenos elas me ouviram dizer que não aguentava mais. mas quando acordei, em contradição, aguentei tudo, e tudo quer dizer o nada, o espaço, o Vesúvio invisível no meu peito. eu senti o bastante pra me afogar de meu próprio afago, e morri seca de apatia súbita. esvaziou. todas as borboletas, nenhuma restou, todas as borboletas estão mortas.
e é claro que doi, é um espaço ferido, são os destroço de algum natural-não-desastre. digo e redigo pro meu euzinho ansioso: imprevistos não são (sempre) desatres.
PordosoldeMarte, 21 de novembro de 2019.