Afélio de abelha a girar por girassol
No desconforto de uma noite, de uma cama, de uma transa,
procuro oxigênio para respirar e não encontro.
Depois das palavras doces da conquista
com os lábios doces da bebida,
o álcool no cérebro alterado, o desejo, o grude,
a conta, o carro, o leito, a foda; e depois do gozo,
o suco biliar da palavra verde, amarga, rude,
a ofensa às marcas na pele, ao corpo gordo,
e então eu corro, suo, jejuo, procuro oxigênio
para queimar substratos, produzir energia ao músculo,
procuro oxigênio para caber no padrão
de um coração que não percebe o tamanho
do seu próprio ego quando pego pelo desejo,
coração dentro do qual eu plenamente caberia
ainda que ocupasse menos espaço,
pois que lá dentro se encontram, perdidas,
aprisionadas, tantas outras noites iludidas,
e ele nunca acolherá ninguém.
Afélio de abelha a girar por girassol.