Da tua morte em mim
Tão triste saber que você morreu. Ao menos em mim. E não é que eu tenha raiva de ti ou que ainda te chores. Tudo isso só me é estranho.
É estranho pelo simples fato de que, hoje mesmo, quando andava pelas ruas da cidade e cruzava os bares de outrora, eu notei que não há mais você em mim.
Você, que depois de tantos esforços para buscar minha solidão, hoje não mora mais em mim. E eu, que fiz de meu peito morado dos teus sonhos e de todos os planos; eu, que quando precisou, matei Césares só pra ver teu brilho reluzir na mais intensa escuridão da vida; eu, que quando não sabia mais ser o que eu costumava ou deveria ser - por mim mesmo -, passei a viver sendo exatamente o que você precisava que eu fosse, só para te poupar os esforços de viver neste mundo desumano; eu, que ao ser tudo pra você, recebi como única recompensa o golpe intenso de uma facada pelas costas, surpreendemente empunhalada por você; eu, hoje, rio alegre a dor da perda.
Meus olhos, que há tempos se secaram por tanto desespero, hoje não pretendem as lágrimas. Você morreu pra mim. E por opção tua. E meu luto, que demorou mais do que deveria - principalmente em se considerando as tuas repugnantes atitudes do fim -, hoje se encerra. Você morreu em mim e me libertou para vida.