AULA DE ANATOMIA
Moro dentro do ônibus
Cago no terminal
O centro é minha estrada
Meu rumo infernal.
Habito o Circular
No ponto final
Ando bem devagar
Para não se dar mal.
O destino não sei onde é
Não tem porta, nem cobertor
Meu almoço um picolé
Ou o resto do que sobrou.
O futuro é a próxima parada
Tem torneira e banheiro
Risco a cidade calada
Faço isso o dia inteiro.
A fila não seleciona
O mais forte comanda
O guarda me pressiona
Meu lugar é toda banda.
Sou humano?
Sou animal?
O excremento do cano
A mordida do chacal.
Enfim uma luz no meu destino
Alguém me empregou
Só que o mesmo cretino
Com três meses me expulsou
Dizendo que tinha sumido
Da sua loja, um objeto
É como do mundo parido
Eu era o ladrão certo.
Voltei pra rua então
Pras filas e pros apertos
Para a minha solidão
Dessa vida sem conserto.
Enfim achei um destino
Como um cão ferido
Para esse mundo cretino
Me tornei um bandido.
Com três meses de trabalho
Com parceiros perdidos
Pelas ruas os atalhos
Tá lá um corpo estendido.
Agora estatísticas sou
virei agora critério
Da vida que terminou
Estou no necrotério.
Não tenho cova
Meu corpo estilhaços de uma cria
Virou prova
Na aula de anatomia.