AULA DE ANATOMIA

Moro dentro do ônibus

Cago no terminal

O centro é minha estrada

Meu rumo infernal.

Habito o Circular

No ponto final

Ando bem devagar

Para não se dar mal.

O destino não sei onde é

Não tem porta, nem cobertor

Meu almoço um picolé

Ou o resto do que sobrou.

O futuro é a próxima parada

Tem torneira e banheiro

Risco a cidade calada

Faço isso o dia inteiro.

A fila não seleciona

O mais forte comanda

O guarda me pressiona

Meu lugar é toda banda.

Sou humano?

Sou animal?

O excremento do cano

A mordida do chacal.

Enfim uma luz no meu destino

Alguém me empregou

Só que o mesmo cretino

Com três meses me expulsou

Dizendo que tinha sumido

Da sua loja, um objeto

É como do mundo parido

Eu era o ladrão certo.

Voltei pra rua então

Pras filas e pros apertos

Para a minha solidão

Dessa vida sem conserto.

Enfim achei um destino

Como um cão ferido

Para esse mundo cretino

Me tornei um bandido.

Com três meses de trabalho

Com parceiros perdidos

Pelas ruas os atalhos

Tá lá um corpo estendido.

Agora estatísticas sou

virei agora critério

Da vida que terminou

Estou no necrotério.

Não tenho cova

Meu corpo estilhaços de uma cria

Virou prova

Na aula de anatomia.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 15/06/2019
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