Um Fruto e Seus Limites (para Ch)
Eis-me aqui, com você, sabendo.
Minha idade, experiência e até mesmo
os incontáveis microrganismos que habitam nossos corpos,
e que, eternamente, guerreiam entre si,
percebendo a clara linha que ali está,
bem a minha frente,
para lembrar,
sempre e a todo instante,
que a ela não posso transpor,
nem mesmo ousar qualquer coisa
capaz de sugerir algo assim.
Temos nos falado bastante,
isso tudo começou de mansinho e, agora,
os dias têm sido de uma gostosa expectativa,
e a cada frase trocada percebo uma afinidade maior,
uma vontade maior,
uma curiosidade,
um desejo.
Normais?
Sim.
Afinal, esse instrumento utilizado
se presta e muito às fantasias e aos devaneios,
assim como às expectativas dos mais remotos e secretos
desejos do coração.
Dezenas de vezes passei por isso.
Outras tantas, você.
Mas as estradas nunca são iguais,
há curvas por todos os lados,
sob todos os ângulos.
A gente olha para os lados,
se distrai,
e a paisagem nos brinda com árvores frondosas,
cuja imagem se imprime para sempre na nossa mente,
ou com secos arbustos
que, por se confundirem com o comum do cenário,
passam ao longo do caminho e se confundem com a própria paisagem.
Então, os passos, retos e firmes,
começam a se tornar levemente sinuosos e mais lentos.
De repente,
na primeira sombra,
atraídos pelo aconchego da paisagem,
pela brisa suave daquele ponto do caminho,
pelo som dos pássaros
e pelo barulho da cachoeira próxima,
nos sentimos convidados a sentar
no relvado aconchegante.
Ali, olhando para o céu e para a árvore que
nos abriga da luz solar,
contemplamos, lindo, maduro e convidativo, um fruto.
Ele está ao alcance da mão.
É só apanhar e comer.
Então, nesse momento, nos perguntamos:
Até onde vão os limites?