Matuto matutando seu gostar de matuto ser.

Rio, 03.08.10.

*Homenagem a Jessier Quirino, poeta nordestino.

Matuto matutando seu gostar de matuto ser.

Pois é, sou meio matuto mesmo

sujeito interiorino,

afeiçuoso do roçado

e dos versos de Jessier Quirino.

Sou mais pras cigarras

e grilos do meu quintal

do que pros tumultos

dos shopping centers

e os avermelhados do sinal,

é bonito ver aqueles

artomóveis que passam pela

arto estrada em velocidade

ovinista, mais tão rápido

que quando tu oia lá pro

horizonte da pista

o trem já se foi,

mas oia que inda prefiro

o meu carro de boi.

Aqui no mato a gente ainda

cunsegue separar

o trigo do joio,

lá pros lados da cidade

ta tudo misturado,

modes que o cabra

ruim muitas vezes

é vendido por cabra bom,

tudo é ruído e buzina

não se ouve mais a passarada

assubiar seu som.

A gente aqui enrola um fumo

de rolo, no máximo

cheira um rapé,

lá se enrola outro tipo de fumo

e o que se cheira

nem preciso dizer o que é.

Vira é mexe um matuto

vai a caça ao se ouvir

um tiro de espingarda

a matutada toda acode,

pra ver o tamanho do preá,

já lá quando se ouve

um tiro de fuzil ou HK

Todo mundo se esconde

modes que uma bala perdida

não lhes venha achar;

Uma rapariga que de mim se

engraçou me convidou

pra ir mais ela viver

na cidade, ao recusar,

ela me disse que eu

era mesmo um cabeça de bagre,

capial que gosta de lama

quem nem fosse um girino.

Pois é, sou meio matuto mesmo

sujeito interiorino,

afeiçuoso do roçado

e dos versos de Jessier Quirino.

Clayton Marcio.