CANTO SERTANEJO
Ai meu padim Ciço!...
Quê seca braba!...
Acabe com isso!
O que será do meu Ceará?!
Houve procissão,
Não veio milagre,
Não sei a razão,
Para nos judiar...
É muita tristeza,
É de cortar o coração,
È muito castigo,
Cadê o meu feijão?!
Oh meu cumpadre Chico?!
Ai mãe virge Maria!...
Por que tanta judiação?!...
Tudo parece uma fornaia.
Quê será do meu Sertão?!
Ó meu grande Sertão!
Os matos estão secos,
As criações estão magas,
Só comem parmas,
É dó no meu coração...
Ó meu Sertão das secas!
Não tem roça,
Prumode nóis plantar.
Não tem caça,
Prumode nóis caçar.
Não tem nada,
Prumode nóis trabaiá...
Ó que grande sordade!
O meu Sertão vou deixar,
Minha muié e meus fios,
O pau-de-arara vou pegar...
Já estou de calafrios,
A sordade vou deixar...
Mas em São Paulo,
É lá que eu vou trabaiá...
Salvador-Ba, 22/02/2006
Everaldo Cerqueira
Publicado:
Antologia Escondidos Sob o Luar, página 75 - Editora Brado das Letras - São Paulo/Santa Catarina - 2a. edição -2009.