Cabra Nordestino

Tarcísio R. Costa
 
Pra ser home
não precisa dizê que tem h
nem outra desculpa quarqué,
dizer, sim, que gosta de muié,
que é  um cabra trabaiadô,
qui num qué  a "vida boa"
que tem lá na capitá...


Qué vivê  mermo no sertão,
trocar o “sanduba”
por feijão,
sê valente, corajoso,
desconfiado e manhoso,

Ser cabôco honesto
mesmo dos aperrei
não mexer no qui é alhei,

não andá cá cara cheia,

bebê só fina de sumana,

tomá umas cana,

pra matá a dor de dente,

sê pobre

mas sê decente,

andá todo arrumado

ao lado do seu amô,

na lapela botá uma fulô
descambá pros forrós
pro mode se diverti.
Ser feliz e gargaiá,
com os amigo proseiar,
curtir a natureza,
ouvi os passarim.
dispois tomá bãe de rio,

no mei do mulheril
pular das ribanceiras,
descer nas corredeiras,
ver as beleza das flô,
apreciá as suas cô

ser respeitadô
dormir tranqüilo
de barriga cheia,
com o amô de lado,
não alimentá ilusão,
não viver de fantasia

tê amô no coração

escutá as poesia

aprendê a fazê repente

com cantadô do sertão.

 

Tarcísio Ribeiro Costa

 

 

*

 

CABRA NORDESTINO!

Bernardino Matos

 

Nesse sertão nordestino,

num sobrevive fracote,

pois num agüenta o pote,

quando inframa o intestino,

num chega nem a menino,

a vida bate o martelo,

o bichin morre  bruguelo,

fecha os zói e bate o pino.

 

Si num achata o quengo,

num passa de um caçote,

fica chein de fricote,

nunca vai sê mulherengo,

boneco de mamulengo.

O caba que nasce macho,

é frito no mesmo tacho,

infrenta quarquer parada,

num morre nem a paulada,

num tem talvez, nem eu acho.

 

Pra infrentá a caatinga

andá na terra rachada,

limpá mato cum enxada,

mandá um gole de pinga,

bebê água em moringa,

num é pra caba molenga,

qui foge de uma quenga,

é pra cabôco curtido,

cum isporão imbutido,

qui topa quarquer arenga.

 

E quando a cabôca passa,

cum aqueles zoin pidão,

num corpin bem violão,

arrebolando cum graça,

o miolo do caba imbaça,

e ele parte pra briga,

num respeita nem urtiga,

e quando gruda a morena,

ingrena uma cantilena,

qui nem o diabo castiga.

 

A seca num mete medo,

trabaia de só a só,

quando entra num forró,

faiz da vida seu enredo,

isquece a palavra cedo,

dá siná pro sanfonero,

pru son ficá mais ligero,

e naquela poeirama,

diz logo qui a nega ama,

viver fica mais manero.

 

Amigo, num é cascata,

no meu sertão é assim,

tem qui sê espadachim,

se ficá a vida mata,

sem corrê leva chibata,

a vida do sertanejo,

exige muito molejo,

é pra caba corajoso,

desconfiado e cestroso,

se não recebe o despejo.

Fortaleza, 03/03/07

Tarcísio Ribeiro Costa
Enviado por Tarcísio Ribeiro Costa em 04/09/2008
Reeditado em 19/10/2008
Código do texto: T1160956