Todo poeta
Do livro Cantigas do milharal de 2005 de Daniel Lellis Siqueira
Todo poeta tem que ser livre. Estudar um pouco de tudo, e saber do pouco do nada.
O poeta tem que sentir o cheiro, porém, sem existir o prato.
Lambuzar-se do mais esnobe paladar, e esganar-se com a mais dura miúra.
Morder a pele mais salgada, enquanto chora o mais insalubre canto.
Para isso não era necessário universidade, era preciso nascer assim, e ponto.
Não se ensina a visão de um poeta, apenas se exibe a visão que se tem. Às vezes é penoso, pois se está muito evoluído, ou às vezes apenas descompensado, ou atrasado, ou escrevestes o que já foi escrito, ou deixou de escrever o inescrevível aquilo que estava no topo da sua mente. Aquela sensação que as palavras se escondem atrás da porta, ou debaixo do tapete, e você preguiçoso encosta-se à cadeira e acende um cigarro. Espera-as voltar.
Sabe quando não basta inspiração e sentimento? Quando já não há motivos para a criação? Esse sim é o poeta! O poeta é o motivo da mais sublime criação, que se condensa nas paredes brancas de celulose e se imortaliza nas têmporas dos mais desprovidos de inteligência. Naqueles que não têm tanta necessidade ou amor para escrever. Aqueles que nasceram para ler o que nós escrevemos.
Sei que é duro, mas Neruda dizia isso. Cada um nasce para ser exatamente o que é, por mais que se tenta mudar, nada impede de conseguir.
O poeta é a causa da poesia!
Poesia não é se escrever o que se sente, muito menos embelezar o que se vê. Poesia é cagar no meio da rua. É fazer o que constrange ou o que inibe, é fazer algo novo, e transformá-lo em algo compreensivo para todas as pessoas. O poeta decodifica os próprios sentimentos, e os mistura até se criar uma métrica coerente, entende?