FELICIDADE PROPOSITAL

Descobri que sempre somos felizes. Na verdade, sempre somos felizes. Se sofremos um acidente e sentimos dor, somos felizes porque a dor é local, não dói todo o corpo e se dói todo o corpo, os dentes não doem. Se sofremos um acidente, somos felizes porque não quebrou o maxilar, apenas as duas pernas e um braço; não esfacelou o crânio, apenas o maxilar e, melhor de tudo, continuamos vivos, o que nos deixa mais felizes porque sabemos que após alguns meses de convalescença, uma longa espera e tratamentos doloridos, ou não, poderemos ainda andar, embora que, talvez, mancando, de muletas ou de cadeiras de rodas. Mas então já seremos bem mais serenos que antes, pois aprendemos a ter paciência, aprendemos a não estrangular o coração com inquietação e impetuosidade, as mesmas que, talvez, nos tenham levado ao acidente. Curtindo a inatividade e a espera, aprenderemos a valorizar as pequenas coisas, os pequenos momentos, as sensações mais suaves, nos tornando mais introspectivos, conhecedores do nosso interior, descobridores de todo nosso potencial.

Todavia, se seremos felizes após sofrermos um acidente, podemos ser felizes em todos os momentos, enquanto não sofremos nenhum acidente, aproveitando as pequenas coisas, mesmo a monotonia enquanto ainda podemos escolher entre ela e a atividade, pois a monotonia se produz na inércia e a inércia só existe enquanto há a paz. Devemos aproveitar a paz e ver o quanto ela é capaz de nos fazer felizes, muito mais do que a agitação, a tensão e a loucura, pois somente na monotonia é que saboreamos os bons momentos guardados em nossa lembrança. Vamos saborear todos os momentos, os bons e maus, pois cada um produz sua sensação e jamais cairemos em depressão. Saboreie sua vida enquanto a tem.

Wilson Amaral

Bê Hauff Witerman
Enviado por Bê Hauff Witerman em 07/05/2008
Código do texto: T978593