Só Com o Tempo
Para nós, as criaturas, as verdades são meias verdades, pois o absoluto nos escapa. E as aparentes disparidades são explicadas pela lei dos paradoxos.
E, ao mesmo tempo que somos individualidade, formamos um todo. E, ao mesmo tempo que somos eternos, há algo de perecível em nós. E, se é verdade que o tempo em essência não existe, é mera convenção humana, é fato também que este passa...
E só com o tempo descobrimos que só com o tempo é possível estas e outras realidades descobrir.
E só com o tempo descobrimos que o importante é descobrir.
Descobrimos que ser feliz é muito fácil e ao mesmo tempo tão difícil. Que ser feliz é pela correnteza da vida se deixar levar. Pelo fluxo de energia que rege o universo se deixar guiar.
Descobrimos que se queremos muito fazer algo, o momento mais propício para fazê-lo é o hoje, pois o amanhã é incerto demais.
E que Isaac Newton estava realmente certo, toda ação, invariavelmente, desencadeia uma reação. E, por esta razão, não basta que o que queiramos fazer seja bom, é preciso pensar nas conseqüências. Que quando fazemos algo, seja bom ou ruim, estamos jogando uma flecha no espaço que um dia a nós retornará.
Descobrimos que nossos verdadeiros amigos são aqueles que se afligem com nossos sofrimentos, estão ao nosso lado nos momentos das provas mais difíceis, sempre prontos a nos ajudar e mesmo assim sabem respeitar nossas escolhas.
Descobrimos que humildade é o termômetro que mede o quanto já aprendemos com a vida. E que esta vida é apenas uma batalha da grande guerra, onde só se vence quem sabe com integridade competir.
Que podemos ganhar ganhando ou perdendo, não importa. Na verdade é uma coisa só. Que gostemos ou não, a vida é uma grande competição, e precisamos sempre nos superar. Que para chegar lá precisamos passar por cima dos obstáculos como um rolo compressor, mas jamais por cima das pessoas. Que a linha que divide o fato de se defender o seu espaço e ser grosseiro é muito tênue, mas divide.
Que o meio e as circunstâncias influem muito em nossas atitudes, mas não são determinantes, ou a evolução não se daria.
Descobrimos que poucas coisas são tão belas quanto o sorriso de uma criança. E que não importa qual seja nossa idade, se tivermos pureza, seremos uma, e que se perdermos esta qualidade, não importa quantos anos tenhamos, deixaremos de sê-la.
Que educar é a nobre arte de se formar cidadãos. Que nossos primeiros mestres são nossos pais. Que não importa o quanto já sabemos, sempre poderemos algo de novo aprender. Que ler sobre um lugar jamais substituirá a experiência de se ir a este lugar. Que ter a receita de um bolo não significa que o faremos com maestria de primeira. E, por esta razão, saber o que é correto não significa que se conseguirá fazer o que é correto.
E descobrimos que existem muitos sentimentos parecidos com o amor, mas o verdadeiro é aquele que dá vida e move os mundos.
Que sexo é algo maravilhoso, mas pode ser frustrante quando feito sem amor. Que ouvir um sim é bom, mas um não às vezes é ótimo. Que a natureza é livre, e, como integrantes desta, livres somos. Mas, a título de liberdade não podemos na liberdade alheia intervir. As verdades são meias verdades.
Descobrimos que de fato somos o que pensamos ser, desde que pensemos com muita convicção e sem nenhuma ansiedade. Que quando cedemos aos nossos instintos inferiores ou pensamos muito neles estamos criando um monstro que um dia irá nos dominar.
Que a vida sempre vale a pena, ou ela não se manifestaria, mas que é muito melhor quando somos úteis. E que para sermos úteis, muitas vezes, só precisamos emprestar nossos ouvidos, um sorriso ofertar ou palavras doces e sinceras distribuir.
Descobrimos algo fantástico: que os erros são sinais que não fizemos a coisa certa. Logo, o velho jargão: "faria, hoje, tudo exatamente igual", é passar um atestado que nada aprendemos. Que aprender com os erros alheios é válido, mas que passar a vida condenando as pessoas é escolher aprender da pior maneira.
Descobrimos que viver em paz difere em muito de viver para o nada. E descobrimos, depois de irmos ao inferno, que a paz não tem preço.
E que quando estamos felizes rimos de tudo e até do nada. Mas que o riso é apenas uma das faces da felicidade. E que quando em excesso pode ser também uma máscara da loucura.
Que quando estamos de mal com a vida todos que nos contrarie serão por nós taxados de chatos, e que quando estamos de bem com ela sempre arrumaremos desculpas que justifiquem as mesmas atitudes dos mesmos chatos.
Descobrimos que o caminho mais curto para o sofrimento é a rebeldia, ainda que inconsciente. Que nos conhecer é preciso, e que isto leva tempo. E por isto mesmo é melhor começarmos já.
Que mudar de aparência às vezes é bom e disto a natureza dá exemplos, já que nela tudo se desfaz aqui para renascer acolá. Mas mudar por dentro é o único caminho para o crescimento, e muitas vezes preferimos mudar de amigos, de cidade, de país a ter que nos reformar.
Descobrimos ainda que o “orai e vigiai” não é mero preceito religioso. É uma questão de sobrevivência. Que se não temos fé em nada, é melhor procurarmos uma, pois quando todos nos abandonarem e não restar mais nada, será só ela que nos manterá em pé. E que se preferirmos não mais ficar em pé, se acharmos que não vale a pena, tudo bem, o sol vai continuar à brilhar.
Descobrimos que depender de alguém para ser feliz é muito ruim.
Que não importa o quão ruim a vida pareça, ela está, apenas, algo querendo nos ensinar. E que somos seres que agem por reflexo condicionados, e por esta razão, por mais que achemos que não somos responsáveis por nossos sentimentos, nós escolhemos um dia ser como somos.
Descobrimos que somos tão pequenos diante do grandioso espetáculo da vida e ao mesmo tempo tão essenciais a esta. Que a vida é dura, deveras dura. Mas que podemos ser mais duros ainda, é só uma questão de acreditar.
E só com o tempo descobrimos que o mundo está repleto de paradoxos. Que as verdades são meias verdades, pois o absoluto nos escapa. E que em verdade os paradoxos nem existem, são apenas duas faces da mesma moeda, pólos opostos da mesma energia.