Remoendo o passado
Voltar a bolinar o passado gravado e muito bem gravado em nosso cérebro, muitas vezes nos cauda mais dor do que satisfação. Compulsando meus alfarrábios no cofre escondido em um dos cantos de meu crânio, já bastante castigado pelo tempo, pude analisar-me com mais frieza e chegar a conclusão de que não foi de tudo um mau negócio ter nascido no ceio de uma família humilde do sertão brasileiro, pois consegui isentar a mesma dos tropeços e das quase quedas superadas até chegar ao patamar em que me encontro agora, ao ver hoje minha história se repetindo e parecendo não ter um fim.
Sei que aqueles que já leram o que escrevi sobre minha infância até agora, só viram o lado positivo que carrego comigo junto com as amarguras presas em minha consciência, com vergonha de expor para a sociedade que muitas vezes não perdoa e vez por outra te joga na cara, o que você teima em esquecer. Comparando-me a uma pessoa mais abastada e voltando a este passado distante, lembro-me do primeiro lápis que recebido de meus avós, para que eu pudesse iniciar na arte de escrever a história de minha vida. Não era pequeno como os demais, pois media uns dois metros e era de uma madeira bem resistente que chamávamos de guatambú e que continha na sua ponta, um objeto de aço apelidado de enxada e não um pedaço de grafite existente nos costumeiros apetrechos de hoje que utilizamos para escrever nossas memórias. É bom lembrar também que me deram a oportunidade de adentrar uma sala de aula verdadeira, quando completei meus dez anos de idade, o que fez com que gostasse tanto que até hoje ainda tropeço nas palavras, tamanha era minha vontade de aprender.
O que mais me entristece é que até hoje com a espantosa evolução humana, ainda não conseguiram mudar conceitos primários encrostados no modo de viver do rústico camponês. Até quando ainda vamos ver crianças mal saídas da maternidade, empulhando lápis que lhes causam calos e dores, não só dores carnais, mas dores na alma, uma alma que busca incessantemente uma explicação por tamanha ignorância e não encontra. É por isso que digo, que muitas vezes é bem melhor esconder o passado, para não sofrer no presente.