Descanso

Nesse nosso mundo sempre tão acelerado e afobado, acabamos sucumbindo à pressão e tornando nossas vidas corridas, atoladas de coisas a fazer, coisas que, em muitas vezes, nenhum sentido possuem, coisas que em nada nos agregam, coisas que nem mesmo nos agradam, mas que, nessa sensação de que precisamos fazer, precisamos entregar, precisamos demonstrar, acabam sendo colocadas em nossas vidas apenas para ocupar espaço. E quando nos damos conta, estamos exaustos, cansados, desesperados pelo final de semana, angustiados por aquele feriado, sedentos pelas férias. Momentos que, uma vez chegados, passam tão rápida e ligeiramente, pouco são aproveitados, pouco são desfrutados, estamos tão exauridos que nem mesmo temos energia para descansar. Isso porque descansar não se trata simplesmente de deitar numa rede e adormecer por horas que correm como as águas de um rio comprido. Descansar está naquela experiência que nos agrada, naquela leitura que nos encanta, naquela dança que nos envolve, naquela escrita que nos inspira, naquela música que nos emociona, naquele filme que nos arrebata, naquelas vivências que, mágicas e, ao mesmo tempo, perfeitamente reais, afastam-nos de correrias desenfreadas e levam-nos a um encontro especial: o nosso para conosco mesmos.

No entanto, com o corpo moído e a mente pesada, quem é que consegue se entregar ao prazer de um lindo livro? Quem é que consegue se reservar à escuta de uma sutil canção? Quem é que tem disposição para apreciar a paisagem procurando nela por seus inigualáveis encantos? As pessoas só querem se desligar. Só querem se dessensibilizar. Só querem que as demandas desse mundo sempre tão demandante simplesmente cessem. Então se escondem atrás de distrações. Distrações não servem ao nosso descanso. Distrações servem, apenas, para que possamos nos distrair daquilo que, por tanto tempo, nos incomodou. Só que as distrações roubam de nós o nosso tempo. Aquilo que, como um dia conversamos, a nós é tão valioso. Aquelas horas desperdiçadas em vídeos curtos poderiam ter sido investidas numa profunda conversa com nosso amigo mais íntimo. Aquela ressaca brava por termos passado do ponto em meio ao desespero por um pouco de alívio poderia ter sido substituída por um momento de intensa alegria jogando um jogo de tabuleiro com o filho que tanto amamos… Mas como estaremos disponíveis a coisas que realmente importam se foi roubada de nós toda a nossa energia por termos que corresponder às obrigações de tudo o que nos cerca? É aí que surge a importância de nos voltarmos para dentro e nos questionarmos sobre o que realmente estamos fazendo de nossas vidas. Usando-as para o nosso crescimento? Para a nossa evolução? Ou será que a nossa vida está sendo usada para os interesses e anseios de instâncias que apenas lucram a partir de nosso sacrifício? O mundo demandante nos faz perder de vista a nossa própria vida. E, quando nos damos conta, o tempo passou, se foi, evaporou, deixando rastros de arrependimento pelo tempo que não foi vivido…

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)