finalzinho dos vinte

hoje eu faço vinte e nove anos. é, os trinta anos já se aproximam, posso ouvir os seus sinais. e parece que tenho só um ano para fazer a minha vida dar certo - seja lá o que isso significa. esse “dar certo” é o quê exatamente? casar, ter filhos, emprego estável, casa, dinheiro, sucesso? não sei bem. eu sei que é loucura e que o divã não explica o que é essa sensação constante de que você está atrasado. porém, atrasado para o quê realmente? eu passo a maior parte do tempo tentando colocar na cabeça que idade são apenas números. contudo, nada me tira a ideia ansiosa que eu preciso mudar tudo: minhas roupas, o cabelo, os óculos, minhas relações, minha vida, eu. lembro que há alguns meses eu estava numa gana de mudança. não sabia bem o que queria fazer, só queria mudar alguma coisa em mim para acalmar a agitação do meu coração. é que o tempo está ficando mais escasso na minha ampulheta do tempo e parece que escorro e me afundo nas areias à medida que ela cai no pequeno espaço… eu não estou mais no início dos vinte e poucos onde tudo é descoberta, mudança, adaptação, e nem nos trinta anos onde eu sou sábia, segura, poderosa e espero que saiba mais um pouco da vida. eu estou naquela fase em que eu olho ao redor e cada um estar tomando um rumo diferente: uns casando, outros indo para o segundo filho, aqueles que estão viajando e eu pesquisando o preço mais barato do protetor solar (para parcelar no cartão). e nessas horas eu paro e penso, com essa cabecinha que nunca para de produzir pensamentos: será se estou no caminho certo? será que a d. de trinta anos vai ficar bem (daqui a um ano)? a de quarenta vai ficar feliz com as decisões que tomei hoje (espero que pelo menos a pele esteja boa)? tudo o que eu tenho é o que a d. de vinte anos experimentou e viveu até aqui. tudo o que a d. de vinte anos amava vai mudar? será se a de quinze vai ficar orgulhosa de quem eu me tornei? nunca tive planos audaciosos, então acho essa versão atua lé plenamente aceitável. eu sei que tudo tem seu tempo e que é normal querer controlar tudo o que há por vir. porém, se o que aprendi serve de algo, é que a vida sempre vai encontrar um jeitinho de surpreender. e talvez o segredo esteja nisso: aceitar que não há como ter todas as versões de nós mesmos que se fragmentam a cada escolha. eu não preciso ter todas as respostas. e tudo bem. e se nem tudo fizer sentido aos vinte e nove, eu fui feliz pelo tempo que eu tinha. apesar de ter sido um ciclo bem difícil e que me quebrantou em alguns momentos. eu percebi que tenho me tornado mais distante de tudo aquilo que ameaça roubar a minha paz. talvez seja a maturidade escancarando a porta e botando ordem na bagunça que a euforia dos vinte e tantos traz. comecei a frequentar os lugares com um olhar mais afastado… é como se eu tivesse observando a vida do lado de fora. eu chego, sento e observo o frisson… tudo acontecendo, o barulho, a ânsia de querer viver tudo. eu tive pouquíssimas vezes essa sensação, mas me lembro de como ela é. prefiro a calmaria de ser uma protagonista que opta em ter a própria vida para si, com as alegrias e tristezas que isso proporciona. a animação para os vinte e nove é mais contida, parece até indiferente, mas é apenas a forma como resolvi celebrar mais uma volta completa ao redor do sol. que dessa vez eu seja um pouquinho mais com a lua e brilhe nas sombras, sem chamar tanta atenção.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 12/11/2024
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