Devaneio Inútil

Vivo, mas não sou mais que a sombra espessa,

De um ser que o tempo aos poucos vai roendo,

No âmago profundo, escura pressa,

Onde a carne morre sem saber morrendo.

A vida, imensa e vã contradição,

É fogo que arde sem jamais queimar,

E ao peito, em vão, rasgo o coração,

Pois o vazio eterno vem me esmagar.

Sinto em meu sangue a podridão latente,

O verme espreita a morte que há em mim,

No fundo deste corpo decadente,

Sou pouco mais que o eco de um motim.

E enquanto a vida esvai-se como um grito,

De sonhos rotos pela dor cruel,

Na carne flácida, em silêncio aflito,

O homem morre olhando para o céu.

O tempo — esse algoz imperturbável —

Vai consumindo em fúria, em devaneio,

E eu, num riso frio e lamentável,

Desato as cordas que me prendem ao seio.

No vazio, tudo é fim e é começo,

Morre-se aos poucos sem qualquer valor,

Pois no devaneio, a vida é só o preço,

Do tormento que chamamos de amor.

Cleyton Berkaial
Enviado por Cleyton Berkaial em 25/09/2024
Código do texto: T8159900
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