A vida que levo
Fato: morro um pouco todo dia
Diariamente, meu corpo se renova, se descarta, se refaz; nada é tão bom como antes, tudo começa a falhar, cair, pesar
Casualmente, deixo-me escondida, esperando o momento de ser feliz, ou de ser recompensada pelas minhas "boas ações", enquanto não existo, apenas pairo e agrado (tento, ao menos) tudo e todos. Já não sei do que gosto, já não sei quem sou. Só sei que nada sou, disso sei
Certamente, esteja tomando atitudes das quais me arrependa oportunamente, mas a minha mente está tão fortalecida de traumas, que a minha fragilidade é tanta, que não posso/quero lidar com a dor do desprendimento, a dor do crescimento, a consciência, doída, da maturidade. Não poderia encarar meus erros sem sentir vergonha, sem me sentir pior, sem me sentir menos ou com menor valor.
Vagamente, tenho a sensação de conhecer o caminho da cura, mas eu não sei se estou disposta a caminhar tanto, a me desgastar mais, a ser outra pessoa, a não me reconhecer, talvez.
Fortemente, vem a minha mente, momentos de tristeza, momentos de dor, e a raiva q sinto preciso colocar pra fora, e nessas horas q descubro possuir a capacidade de ser pior do que imaginava ser, do que costumo ser. Passo a ser cruel, e me alimento de todo o estrago q faço, como uma bomba q consome as moléculas do ambiente e destrói, sem distinção. Nisto, porém, me diferencio, porque foco no que amo e destruo como forma de me punir, por não sentir que mereço, por sentir raiva de mim, e de quem se confunde comigo, as vezes.
Nesse momento, encontro-me triste, pensativa, incrédula, ainda, pelo que ouvi, pelo que vivi todo esse tempo de existência, pelo que posso ver ainda. É um misto de curiosidade mórbida e de um medo ansioso, como se machucasse a minha carne para me aliviar, como se tivesse pavor da agonia, mas nela encontrasse profundo prazer, como se respirasse veneno esperando viver, como se amasse esperando ser amada.