Mudança interior
Por vezes aguardamos ansiosos pela mudança. Isso porque as coisas já não nos agradam, já não nos atraem, parece que perderam o sentido. Aquele entusiasmo, aquela energia, aquela motivação por viver, parecem ter diminuído. O que não é de se espantar. Se fico por horas e dias seguidos observando a mesma paisagem, em algum momento ela perderá o seu encanto. Pode ser a mais bela e bonita das obras de arte produzida pelo mais talentoso dos artistas. Fica maçante e fica entediante se eu estiver apenas e somente diante dela. Precisamos de outras experiências, precisamos de outras paisagens, precisamos transitar por outras flores para que, ao retornarmos à nossa predileta, possamos encontrar nela os motivos pelos quais nos apaixonamos por sua existência. Diante disso, quero trazer que a mudança que esperamos, o renovo pelo qual aguardamos, deve partir de nós, de nossa ação, de nosso movimentar sobre o mundo. Não dá para ficar diante da mesma paisagem por anos achando que ela vai se transformar espontaneamente. Não dá para permanecer o mesmo achando que a vida será outra.
“A vida é de dentro para fora. Quando você muda por dentro, a vida muda por fora” (Kamal Ravikant)
“A vida é de dentro para fora”. Isso é tão verdadeiro! Isso porque vemos no mundo muito do que carregamos em nós, muito do que compõe o nosso fundo de vividos, o nosso fundo de experiências. Em certos momentos, dentro de um processo psicoterapêutico, convidamos nossos clientes a observarem uma imagem, por exemplo, e descreverem o que veem, ou então que contem uma história a partir da cena que observam. O princípio por trás dessa proposta de experimentação é o de que projetamos muito do que está guardado em nosso interior nessas tais imagens e descrevemos ou narramos a partir daquilo que trazemos conosco. Surgem, assim, as identificações e, com isso, a expressão de nossos conteúdos se torna mais fácil. Por isso a vida é de dentro para fora. Vejo na vida o que carrego comigo. Se tudo está nublado e assustador talvez seja importante, interessante e necessário que eu olhe para dentro e, assim, descubra o que em mim torna tudo tão incômodo.
E a frase termina dizendo que “quando você muda por dentro, a vida muda por fora”. Continuando no nosso raciocínio, ao descobrir que a forma como encaro minhas experiências passadas é sempre cercada por muita melancolia e muito receio, consigo compreender que é assim a forma pela qual tendo a contemplar o que me cerca no agora. E talvez, sim, talvez minhas experiências tenham sido mesmo dolorosas e inquietantes. Mas eu posso ressignificá-las. E não é ressignificá-las tentando “pensar positivo”. Com certeza não. Se pensar positivo resolvesse alguma coisa nossos consultórios psicológicos e psiquiátricos não estariam lotados de gente em sofrimento. Ressignificar nossas experiências é entender o que acontecia conosco quando aqueles traumas foram vivenciados. Quem éramos e quais recursos tínhamos? Olhando para isso, chega o momento de olharmos para quem somos agora e de quais recursos nos dispomos. E com isso, atentos às nossas novas possibilidades, é também o momento de tentarmos experiências diferentes. E, conforme formos tendo sucesso nessa empreitada, vamos compreendendo que o passado não necessariamente precisa se repetir. Nossas crenças vão se modificando e alterando. Mudamos por dentro. A vida, então, muda por fora!
O processo é tão simples e mágico assim? Lamento dizer que não. Ou talvez não lamente tanto assim. Isso porque acredito que as melhores construções que podemos fazer levam tempo. Tempo para amadurecer e solidificar. Tempo para concretizar aquele aprendizado que obtemos. Se as coisas são feitas superficialmente, na pressa, bate o primeiro vento e tudo desmancha, desmorona. Mas se as coisas são construídas pacientemente, vem a tempestade e tudo permanece em pé. A mudança que você espera no mundo vai partir de você. Convença-se disso. Convença-se, ainda mais, de que esse processo exige paciência e tranquilidade. Não se apresse. Mas também não continue paralisado. “A vida é de dentro para fora. Quando você muda por dentro, a vida muda por fora”.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)