Vai clarear

Quando nos sentimos perdidos, angustiados, necessitados por respostas, talvez possamos encontrar alívio e descanso através da sabedoria da Natureza. Talvez ela não tenha respostas diretas aos nossos muitos dilemas. Contudo, ela nos ajuda a respirar para que, mais serenos e tranquilos, retomemos nossas vidas mesmo que ainda acompanhados por uma multidão de questionamentos. E é observando o nascer de um novo dia que talvez consigamos compreender como tudo tem um tempo, tempo este que precisa ser respeitado. Isso porque não existe uma hora específica na qual o sol ressurja com todo o seu brilho, os pássaros tornem a cantar com toda a sua empolgação. Não é isso que acontece. Pelo contrário. É devagarzinho. E é lentamente. A noite vai se afastando quando algumas estrelas começam a ser engolidas pelo tom mais claro que surge no céu. Tom este que ganha um alaranjado. Ou um vermelho. Mas não é essa a questão. A questão é que a luz, depois do breu da madrugada, não aparece de repente. É aos poucos. Até que finalmente o Sol torna a imperar e seus raios atravessam nossas janelas. Regozijam-se os pássaros. Abrem-se as flores. É um novo dia que se inicia.

“Calma. É só aos poucos que o escuro fica claro” (Guimarães Rosa)

Somos parte da Natureza. Infelizmente não costumamos pensar por esse viés e agimos como se estivéssemos alheios a ela e, então, cometemos atrocidades – matamos animais, derrubamos árvores, devastamos florestas e destruímos rios. Mas a verdade é que compomos esta a quem tanto ofendemos. A íris de nossos olhos, quando observada próxima e atentamente, remete-nos à bela pintura composta pelo Universo com suas muitas e infinitas galáxias. Nossos fetos humanos, no início de sua formação, em muito se assemelham ao feto de tantos outros animais. Portanto, somos a Natureza. A Natureza somos nós. E, portanto, assim como o amanhecer não acontece de repente, mas tem um ritmo a obedecer, também há um tempo para que o refrigério se aproxime de nossas vidas, nossas angústias se dissipem e tornemos a sorrir aliviados. Não é de repente. Não basta que supliquemos amargamente para que no segundo seguinte tudo se transforme. O nosso crescimento também é gradual. A cura de nossas dores também segue a um processo. Precisamos de paciência.

Portanto, respire fundo, suspire, e torne a olhar para a vida com olhos de esperança. A dor vai passar. A luta vai terminar. Claro que vai. Porque a Natureza é impermanente, tudo nela se transforma, muda, nada fica para sempre como é. Somos a Natureza, lembra-se? Portanto nossas experiências também passarão. O que inclui as dores, os sofrimentos, os apertos. Só que precisamos de paciência. De calma. De serenidade ao respeitar o tempo das coisas. Se amanhecesse de repente não teríamos o prazer de assistir ao nascer do Sol acompanhados por aquela pessoa a quem tanto estimamos. Se tudo na nossa vida acontecesse de repente, não teríamos o prazer de sermos fortalecidos por cada atravessamento da existência.

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)