DA NOSTALGIA

Tenho uma alma saudosa. Louvo o passado como louvo a natureza viva. A sensação de nostalgia me evade o peito e minha alma. Sinto nisso um regozijo do que vivi. Talvez eu relembrar o que ocorreu e a nova configuração do presente me traga a percepção de que de fato eu vivi. O tempo de fato passou. De fato as coisas mudaram. Não é ilusão de minha mente. E sinto nisso um imenso prazer. Prazer diferenciado, não é intelectual, não é o prazer da carne, não é o prazer estético nem o prazer da vida religiosa. É o prazer de lembrar e relembrar o passado, dos meus amores, de meus antigos amigos, antigos mestres, do meu antigo eu, das antigas escolas e clubes, de lembrar e relembrar o que já vivencie.

Fico absorto, no etéreo, longe do presente e do passado e do futuro e adentro num limbo, numa fantasia particular, que se encontra apoiada na realidade, mas que ao mesmo tempo não sabe se de fato pisa no real. Isso me assusta, agora, pensar. Quando pequeno eu já tinha a imaginação, eu já ficava absorto, e agora eu estou relembrando a nostalgia da minha nostalgia. O pensamento do meu pensamento. E penso que futuramente vou relembrar de agora, e nostálgico irei pensar: de alguma forma eu vivi, seja com alegria ou melancolia, seja com espanto ou tédio, vivi, definitivamente vivi, preso inexoravelmente na minha condição humana.