ANÁLISES E SOFRIMENTOS
Enquanto seguia o caminho que foi indicado pelos meus antecessores, sabia que seria necessário até chegar ao local que me havia sido destinado.
Nada poderia nem deveria interromper minha caminhada que tinha como objetivo primeiro encontrar um sentido para os acontecimentos que se iam acumulando por todos os lugares por onde eu passava.
Novamente a loucura juntava imbecis, hipócritas e cretinos, tudo dentro de um grande plano elaborado para manter o sistema de coação e força pelo medo.
A verdade já há muito fora amordaçada e nada mais se podia fazer para tentar resgatar uns poucos princípios e valores que ainda julgávamos que pudessem existir em algum lugar da sociedade.
Até onde se podia ir, multidões travavam batalhas, digladiando-se, numa luta insana a troco de nada.
A loucura de eras remotas, de um primitivismo selvagem, parecia ter voltado àquele mundo que se dizia civilizado, somente porque conseguira colocar o homem no espaço e fabricar armas que podem destruir toda a vida na terra.
Os pobres animais, mais uma vez, torna-se vítimas da insanidade coletiva, patrocinada e mantida por uma dúzia de cretinos que se colocam no mundo, como líderes.
Todos parecem seguir um mesmo caminho rumo ao caos que já aconteceu em outras épocas, mas que se perdeu no tempo. Tudo isso, no entanto, hoje é colocado como lendas e superstições.
De acordo com as promessas de outros, estamos esperando que, novamente, Deus possa vir em nosso socorro para nos salvar de nossos próprios desatinos.
É grande a estupidez que se faz em nome de uma civilização que nem mesmo se preocupa em se preservar. Prefere destruir, como predadores ferozes, todos os recursos que nos foi ofertado para milhões de anos de vida sobre o planeta.
Enquanto eu andava, observava toda a sorte de desmandos. Nada de limites e com isso as gerações futuras serão sacrificadas, diante de homens que procuram exaurir tudo, pensando apenas em sua própria satisfação momentânea.
Eu analisava todas as atitudes dos “civilizados” e sentia que nada mais restava dentro do sistema, criado por homens que escraviza a si mesmos com a falsas palavras de liberdade.
A liberdade pela qual se ousou lutar visava apenas manter alguns dominando e o resto ficaria apenas amargando a falsa ilusão de felicidade. Tentando esquecer o futuro, diante de alguns fugazes momentos de prazer.
As civilizações que nos antecederam cometeram os mesmos pecados, com isso pagaram pela insensatez, com o declínio e volta à barbárie.
Agora vivemos dentro de um contexto que se diz civilizado, porém somos escravos e reféns vivendo em nossas cavernas, trancadas, de armas em punho, tentando nos manter vivos, diante de grupos que nos assaltam em todos os momentos sob quaisquer pretextos.
A maioria, no entanto, se limita a seguir, procurando, com isso, se manter dentro do contexto social, sem ousar levantar a voz.
Muitos já perderam a identidade, são apenas classificados como um número qualquer e mesmo assim se julgam felizes. Possuem apenas aquilo que lhes é ofertado para ficarem calados.
O conhecimento que deveria ser sinônimo de sabedoria não passa de mercadoria que pode ser adquirida mediante pagamento de módicas prestações.
O sábio que perdeu seus valores fica encolhido num canto qualquer, enquanto o sabido abocanha tudo como um gafanhoto voraz que, simplesmente, devora todas as folhas e brotos da tenra árvore da vida que ainda insiste em sobreviver.
Seguindo através do meu pensamento que sempre se encontra insatisfeito, grito alto. Pessoas que passam em sentido contrário me olham como se pudessem ouvir meu grito silencioso de lamento.
Talvez as expressões que eu possa demonstrar em meu rosto amargurado sejam uma forma de expressar o grito que fica calado e amordaçado. O nó na garganta evidencia meu grito silencioso perante um mundo que gera e mata seus próprios filhos.
E percorrendo o caminho que me leve a qualquer lugar, vou cada vez mais sozinho. Os companheiros que deveriam estar a meu lado ficaram presos às amarras que foram surgindo pelo caminho, criadas com o firme propósito de aprisionar as almas impúberes.
No momento que meu pensamento se alinha com o sofrimento do pobre que se arrasta pelas calçadas, purgando suas chagas e dívidas de um passado distante, uns poucos passam dirigindo suas feras metálicas de forma imprudente.
E novamente passo as costas da mão sobre os olhos marejados, procurando evitar que lágrimas escorram rosto abaixo.
Num grito silencioso de revolta, apenas repito mentalmente os versos do poeta baiano. “Deus, Oh! Deus, onde estás que não respondes?”
Mesmo com este grito silencioso de revolta, sei que o papel continuará a ser desempenhado por todos aqueles que habitam os corpos, procurando com isso desempenhar de uma forma ou de outra o seu papel dentro do grande palco cênico, onde se desenrola a trágica comédia humana.
VEM-19/07/04-