A MENINA TRISTE
A tristeza é sua companheira desde sempre. Um pouco contra sua vontade. Seu desejo é ser dessas pessoas extrovertidas e contagiantes, daquelas que todos querem ser amigos. Não era assim. Sorrir é um desafio diário.
Acostumara-se com a tristeza, e já sente-se até confortável com ela. Afinal, cresceram juntas. Ela chegou a pensar de si que era a personificação da tristeza. Contra sua vontade. Seu desejo era ser alegre, mas sorrir é um desafio diário.
Há dias bons, alegres e quentinhos. Vários dias são assim. Gosta muito deles, de sentir a alegria correndo solta por suas veias. Em dias assim, vez ou outra, a tristeza passa rapidamente só para dar-lhe um beijo gelado. Logo voltará.
O que a entristece tanto? Não saberia dizer assim, de imediato. Mas consegue apontar algumas coisas.
Uma tarde fria e chuvosa é algo que a deixa triste. Uma tristeza gostosa e aconchegante como um abraço. Ela gosta de tardes chuvosas, mas deixam-na triste.
A lembrança de um amor que partiu é o que traz a tristeza pra mais perto. É o abraço apertado da tristeza, que sussurra em seus ouvidos com sua voz gélida o que poderia ter sido e que nunca será.
Injustiça social, fome, miséria, descaso, são todos mensageiros da tristeza. Ela assume as dores do mundo como suas, mas com um sentimento de impotência que a entristece.
Talvez, se fosse preciso enumerar o que a entristece, não haveria página suficiente. Está tão acostumada com a presença triste em sua alma que não saberia nem por onde começar. São companheiras de uma vida toda.
Ela é uma menina triste. Sua essência é triste e sente-se confortável com isso. Gostaria de ser diferente, alegre e divertida. Mas é triste. Acostumou-se a isso. Coloca diariamente um sorriso no rosto, escondendo a tristeza feia que ninguém gosta de ver. A tristeza tão sua amiga, tão rejeitada pelos demais.
Ela é uma menina triste, com o sorriso mais bonito, e com esperança no olhar.