Um mergulho na noite

Resolvi sair um pouco e dar um mergulho na noite.

Sinto uma brisa suave e fresca soprar o meu rosto, esta brisa parece trazer consigo aquela maravilhosa sensação quase que inexplicável que temos ao comtemplar a imensidão da noite. Sensação esta que me acalma e me faz refletir quanto a pequenez e insignificância humana e da vida.

Ouço o som dos grilos que mais parecem uma linda sinfonia sincronizada com o cintilar das estrelas no céu. Ouço ao longe o latido de um cachorro que talvez tenha se assustado com algum barulho estranho vindo dos arredores de sua residência. Ouço também o canto de um pequeno pássaro noturno pousado em um galho de árvore, enquanto isso, outros tantos dormem empoleirados aos pares num juazeiro qualquer. Um galo canta fora de hora, uma coruja pia ao longe e um jumento zurra estrondosamente. Há também alguns sons estranhos que não consigo reconhecer, abrindo assim, margem para a imaginação e o mistério que envolve a vasto breu a frente dos meus olhos.

A luz tênue da Lua quarto crescente cai como neve por sob o tapete de vegetação que cobrem os morros, posso ver sutilmente o contorno de algumas árvores maiores que se destacam no meio das outras. No chão pequenas gramíneas vão capturando o orvalho em suas folhas e dentro de uma casa qualquer alguém está dormindo profundamente junto ao seu gato de estimação.

No céu, um mar de estrelas enfeita o abismo sem fim do universo e a Via Láctea parece traçar um caminho que guia ao infinito. Diante da exuberância e grandiosidade do universo me sinto pequeno, insignificante, assim como os meus problemas que agora parecem ter nenhuma importância. Logo percebo que também faço parte dessa vastidão, também sou parte da noite, e como parte da noite meu corpo começa a se fundir e a flutuar, agora consigo ver tudo de cima, que linda vista eu tenho daqui de cima! Tudo parece minúsculo.

É incrível pensar que a mesma Lua e estrelas que estou vendo agora também é vista por pessoas que estão muito longe de mim tanto no espaço quanto no tempo. Quantos não foram os apaixonados que já olharam para esta Lua e sentiram saudade de sua amada? Quantos os reis e plebeus que em seus momentos de angústia olharam para a Lua e desejaram que as coisas fossem diferentes? Estas pessoas já se foram e agora é a minha, a sua, a nossa vez de comtemplar e um dia será a vez dos nossos filhos.

Será que se as pessoas fizessem mergulhos na noite assim como o que estou fazendo agora elas seriam mais gentis? Mais conscientes? Mais sinceras? Mais corajosas? Será que haveria tantas guerras? Será que um dia as nossas guerras farão com que não existam mais noites para mergulhar? Não quero viver em um mundo em que esta bela noite não exista, pois a noite tem sido meu refúgio, minha paz e minha fonte de esperança para o novo dia que virá.

E quanto a você? Me diga, o que sente quando mergulha na noite? Será que também sente essa magia que eu sinto? Será que todos nós estamos conectados além do tempo e do espaço por esse deslumbre? Talvez nunca saibamos, mas espero que a noite lhe toque, assim como ela me toca, e assim, me faça, lhe faça e faça a humanidade ser cada vez melhor.

Wênio
Enviado por Wênio em 19/10/2023
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