SELVAGEM
Meus textos nascem como animais selvagens.
Sinto as dores do parto - a cabeça girando, os pensamentos fervilhando, e uma necessidade incontrolável de por pra fora todas as palavras que estão presas.
Começo a escrever e as dores parecem aumentar. Sinto as entranhas se apertarem, se contrairem.
Escrita a última palavra, colocada a última pontuação, o ponto final, as dores cessam. Respiro aliviada novamente, as palavras não me sufocam mais.
O texto, nascido, ergue-se em sua própria força e sai cavalgando por aí, ganhando o mundo. Não volto mais nele, não mexo, não trabalho. Tudo foi feito na gestação e no parto. Como animal selvagem, ele nasce pronto. Como mãe, visito-o esporadicamente para cuidar e admirar. Sem modificações. Sai de mim e segue seu caminho livre.
Sou mãe orgulhosa dos meus animaizinhos selvagens de palavras.