Sobre apaixonar-se
Excerto do livro "Divagações", de Eduardo M. Pasquali. Parte 434.
É bom se ver livre das paixões súbitas? Acho que sim. Mesmo que nada venha a abalar a nossa vida; já que a mesmice dos dias é a única coisa que sobra; já que não temos mais brinquedos para nos divertir, a tal coisa fica mais simples, sem paixões ardentes nem raivas. A vida, assim, se apresenta como ela é. O passar dos minutos e deixe-os que passem bem, os dias e as noites. Ah, é meio que patético apaixonar-se depois de certa idade. É patético também ter muitos sonhos, objetivos, afetações, depois de certa idade. Preferimos as coisas como elas são. Preferimos ficar em casa, ler um livro, assistir algo. Sofrer? Não. Imaginar? Nada relacionado ao amor. Amor torna-se assim uma palavra vazia e tediosa. Tudo que quero é um lugar sem gente para uma janta; um que outro amigo que depois vai embora, e uma cama confortável. Um par de livros... eis tudo! A opressão do mercado em fazer-nos acreditar que podemos nos reinventar a todo momento. Mentira! Pare de afetações! Pare de andar aos tropeços, querendo isto ou aquilo. O filósofo já disse que o melhor é evitar os desejos. A necessidade nos ensina muito mais... Ter medo dela é ser covarde, desprezível, irritante!