EU E ELA
O lugar era lindo, agradável. Nem estava tão cheio, havia cerca de vinte pessoas em seus grupinhos. Ainda assim, sentia-me sufocada, como se estivesse espremida num canto da sala. No exato momento em que cheguei já quis ir embora. Não pelos outros, mas por mim.
Ela estava empolgada, animada e cheia de expectativas. Um pouco receosa, por conta de sua timidez, mas disposta a ter uma tarde agitada e feliz. Engoli minha fobia social e fiquei por ela.
Havia uma barreira enorme entre nós e as pessoas. Não eram completos estranhos, mas era como se fossem. Sabia os nomes e algumas referências, mas era como se não soubesse nada e estivesse com eles a primeira vez. Essa sensação era torturante.
Ela se arrumou e foi para a piscina, se enturmar e se divertir. Tentei fazer o mesmo só que fora da água.
Tortura. Pavor. Sensação de morte. Foi horrível. Em algum momento, buscando um alívio, olhei pra ela na piscina. Vi meu reflexo ali. Triste, sozinha, isolada num cantinho, totalmente ignorada pelos demais. Ela me olhou de volta e balbuciou "quero morrer". Aquelas palavras entraram em meu peito como uma adaga. Meu impulso foi de socorre-la, resgatar o amor da minha vida. Ela saiu da água e veio ao meu encontro. Abracei-a bem forte, tentando passar uma segurança que nem eu mesmo tinha. "Vai ficar tudo bem".
Decidimos ir embora, pegar nossa timidez e nosso fracasso social, e voltar pro nosso refúgio de solidão. Voltamos tristes, chorando.
Eu não poderia deixar que esse dia acabasse assim. Eu precisava fazer alguma coisa para quebrar essa dor angustiante. Passamos na sorveteria. "Uma banana split e um copo de açaí, por favor". Encerramos o dia tomando sorvete e olhando o por do sol pela janela. Eu e ela. Sempre eu e ela.